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Foto por Maximalfocus no Unsplash

Eu tenho birra do estereótipo futurista. Birra porque o que me vem à mente, às vezes, é uma postura um pouco blasé quanto ao presente somada a um olhar utópico e/ou distópico sobre o futuro — gerando gatilhos de escassez nas organizações de que apenas seus hacks geniais poderiam salvá-las de se tornarem obsoletas.

É óbvio que, para gerar inovação e antecipar futuros — e essa é uma das razão de existir do futurismo — é extremamente necessário olhar para o futuro. Mas até que ponto o exercício de projetar futuros se descola dos desafios que hoje, agora, vivemos coletivamente? Até que ponto o futurismo consegue olhar para o que vem, mas, ainda assim, ter os pés no presente?

Bom, a metodologia de projetar futuros costuma se basear na colheita de sinais no presente, de forma transversal e multissetorial. Mas o mero exercício de colheita de sinais não significa, necessariamente, ter os pés no presente. Isso acontece porque, para efetivamente fazer com que o novo mapeado no hoje realmente seja uma possível resposta a desafios reais — a inovação que é game-changing– , é necessário pensar em um fator crucial — e esse fator é a intencionalidade.

Ser intencional é trazer um filtro à observação do futuro. É pensar em, mais do que em futuros prováveis, em futuros possíveis e, acima de tudo, desejáveis.

Ter em mente qual é o futuro desejável significa desmitificar a visão de que o que virá é ou um paraíso nas cores do arco-íris ou um cenário desesperador à la Black Mirror (a visão utópica/distópica).



Para projetar futuros desejáveis, é preciso acreditar que existem paradigmas de transição, ou seja, modelos intermediários e factíveis mas que tendem ao que se quer para o amanhã. É preciso realizar microintervenções dentro do escopo do possível. É preciso acessar os fragmentos, os bolsões do futuro que já existem no presente e estão escondidos pelo status-quo bias para trazer visibilidade a eles. É preciso jogar luz sobre os paradigmas de transição que já existem no presente e, com intenção, incorporá-los, para assim co-criar o futuro.

Pensar sob a lógica de paradigmas de transição requer, mais do que tudo, as lentes da intenção. Se observamos os grandes eventos das últimas décadas — ou até séculos — percebemos que o ser humano sempre se viu estimulado a testar os limites da técnica. E, nos últimos anos, nunca se avançou de forma tão rápida no que se poderia chamar de geração de inovações.

Esse ritmo é tão rápido que é bem possível afirmar que quase não há limites de médio/longo prazo para a tecnologia. Mas, em um contexto de quase ausência de limites sobre o que conseguimos alcançar do ponto de vista técnico, onde situar limites éticos? Se tudo é possível, o que é desejável?

Sim, ética é uma palavra meio cafona que muitos de nós associamos à tal moral judaico-cristã. Mas ética não é um conjunto de leis morais limitadoras de viés religioso que querem frear avanços apenas por conservadorismo. Ética é o código de conduta que criamos para nós mesmos e nossas organizações. Ética é o que acreditamos que vale a pena, é o que selecionamos, dentro de um infinito de possibilidades, como o que é preferível.

Assim, para projetar futuros que tenham os pés no presente — ou seja, que enderecem desafios atuais trazendo inovação verdadeira — é necessário, partindo de uma ética, de um código definido do que se deseja, trazer intencionalidade às mudanças que serão construídas.

Bom, eu tenho uma visão particular sobre o que é preferível no futuro. Acredito em um pós-sistema de regeneração social e ambiental e circularidade, de mais comunidades e laços afetivos nas cidades e organizações, de mais tempo de qualidade para todos. Acredito em uma reparação histórica verdadeira de opressões de gênero e raciais e em uma certa ética do bem-viver.

Sim, parece — e é — um futuro distante. Aliás, será que vai acontecer mesmo? Sinceramente, não sei. Mas, na medida em que essa for a ética definida, o que se seguirá tenderá, ainda que muito lentamente, a essa caminho.

Co-criar o futuro exige coragem para olhar para a própria realidade e para todas as pessoas e sistemas que a cercam com lentes diferentes. Diante dos desafios cada vez mais complexos e multifatoriais que se apresentam todos os dias, esse exercício desconfortável é essencial.

Que aprendamos que futurismo é menos uma cruzada para colonizar Marte e mais acessar, no aqui e agora, os sinais do novo que conversam com o que, intencionalmente, projetamos como bom, projetamos como ético, projetamos como preferível.

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Alessandra Freitas

Pesquisadora de comportamento e people insights para marcas e comunidades. Com histórico em inovação social, busca atuar acessando a inteligência coletiva dos múltiplos stakeholders para gerar estratégias de inovação para futuros preferíveis.

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