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Futuro do trabalho: Artigo originalmente publicado na revista HSM Management, edição especial de 25 anos: passado, presente e futuro - Número 150, Janeiro de 2022.

De um passado em que o trabalho foi associado ao sofrimento e ao sacrifício, e depois como caminho de aceitação social, as facilidades da Inteligência Artificial , previstas para meados de 2030 levam a uma transformação radical no campo do futuro do trabalho e do emprego. Em 2050 a sociedade irá celebrar a libertação da ansiedade de “ser alguém na vida” para “ser alguém de vem com a vida.

Futuristas costumam passear pelo tempo através da imaginação. Passado, presente e futuro se encontram e fazem revelações de causas e impactos. Vamos aqui imaginar como poderá ser o futuro do trahalho tendo em conta as mudanças que a pandemia fez acelerar desde 2020.

Para ter real dimensão do que está mudando, é preciso ir longe ao  passado e buscar a origem da palavra “trabalho” que vem do latim “tripalium”, instrumento de tortura utilizado no império romano.  Foi com essa associação a dor, sacrifício, sofrimento que ao longo da história, trabalhadores eram considerados seres inferiores, condenados a trabalhar.

As ideias iluministas do século 18 e a ética protestante que fundaram o capitalismo atribuíram ao trabalhador reconhecimento social como ser privilegiado inserido no mercado. Levamos tão a sério a importância do trabalho diante dessa ideia que nos legitima como cidadãos-produtores-trabalhadores,  que passamos a nos escravizar voluntariamente  por ele e pela necessidade de obter status social.  Antes éramos desprezados, hoje elogiados pela escassez do nosso tempo, associando o valor do nosso capital humano à quantidade de horas que nos são roubadas com nosso consentimento.

Os novos tempos dão sinais de mudança. Tecnologias avançadas ocupam os espaços dos humanos, o trabalho extenuante perde o valor. A dedicação assimétrica às dimensões profissional e pessoal passa a não fazer mais tanto sentido, diante da nossa incapacidade de competir com a produtividade das máquinas,  da precarização das  condições de trabalho e do  tempo livre que se disponibiliza para vivermos a vida plena.

Futuro do Trabalho: Imaginação do passado, realidade do presente

A história comprova que o que é imaginado no passado passa a ser realidade no presente. 

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A imagem de trabalhadores na primeira obra cinematográfica de ficção científica da história: Metrópolis em 1921

A arte e a cultura disseminam projeções de futuro em diferentes momentos históricos que se cristalizam no imaginário coletivo e se concretizam como profecias autorrealizáveis. Produções de cinema, a mídia, as artes plásticas, a literatura são vetores que acabam colonizando mentes de futuros que muitas vezes não conversam com diferentes desejos e contextos.

As mudanças que hoje estamos vendo emergir dessa pandemia já foram visões imaginadas há quase 100 anos atrás por John Keynes, economista inglês iconoclasta que na época da depressão (pós-crise econômica e geopolítica de 1929) já questionava a preponderância da economia sobre a  vida social e colocava na berlinda a ideia do crescimento econômico e do progresso tecnológico como fins em si mesmos. Visionário e transgressor de modelos vigentes, em 1930 escreveu um artigo no qual imaginava seus netos num mundo melhor em 2030,  trabalhando 15 horas por semana e com renda básica universal como a grande conquista do capitalismo. Keynes foi certeiro.  O que na época (e ainda hoje) poderia parecer utópico talvez seja a realidade dos próximos 30 anos no futuro do trabalho.

O historiador holandês Rutger Bregman com o ensaio “Utopia para Realistas” e o sociólogo italiano Domenico de Masi com obras relacionadas ao ócio criativo e libertação do trabalho, professam  hoje o que Keynes já anunciou no passado: uma sociedade em que todos possam escolher no que trabalhar com necessidades atendidas por uma renda básica universal.

Esse futuro do trabalho por prazer e do tempo livre está mais perto do que podemos imaginar.

E se Keynes estivesse vivo testemunhando tudo o que hoje está acontecendo (e ainda está por vir) com as máquinas super-inteligentes?

O futuro do trabalho de Keynes aponta para uma eliminação de profissões e empregos jamais vista na história. A inteligência artificial, a biologia sintética, a robótica e outras formas de automação, além da dinâmica populacional, irão mudar o futuro do trabalho. Isso tudo sem contar com as mudanças aceleradas pela pandemia Covid-19.

Embarcando para esse futuro que já começou com a pandemia, o que era utopia passa a ser real.  Lembrando que as crianças de hoje  hoje estarão na sua maturidade profissional. Mas tudo será diferente. O que elas estarão fazendo? Como estarão vivendo? No que estarão trabalhando?

Futuro do Trabalho: Chegamos em 2050

Dando um salto no tempo, vamos agora para  2050 como se lá estivéssemos,  olhando para as sequelas de uma economia desordenada e disfuncional desde os anos 20.  

Crescimento econômico sem emprego, mais investimento em máquinas do que humanos, tecnologias substituindo empregos, trabalho precarizado, desemprego estrutural, isso tudo foi se revertendo a partir de 2025 quando o mundo estava tentando acertar o passo na transição pós-Covid.

Futuro do Trablaho de 2021 -2030: 30 anos atrás, o trabalho era a continuação do século 20. Apesar dos novos padrões flexíveis de tempo e o trabalho remoto, muitos ainda viviam um pesadelo laboral, trabalhando mais do que 12 horas por dia, em espaços ajeitados dentro de casa com horários invasivos e realidades difusas entre o pessoal e profissional, doenças mentais aumentando, stress no limite. 

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O Uber do século 18 (Credito: James Pollard / Google Art Project)

Estudávamos aquilo que muitas vezes não queríamos, jovens na escola sem a menor ideia de que profissão iriam escolher, aceitávamos um trabalho para poder pagar contas e um espaço,  depois nos aposentávamos e morríamos.

Depois da pandemia e por causa dela, o mercado sofreu mudanças significativas, levando ao fim de uma série de negócios e à demissões massivas, fazendo surgir  modelos híbridos, empregos autônomos e serviços para preencher buracos financeiros.

Muito confrontada e fragilizada, a economia que ainda não tinha nome novo, foi adquirindo diferentes contornos – viáveis e surpreendentes – diante de restrições e também de oportunidades.

Nossos 50 anos de crises globais nos ensinaram diante das aflições de pandemias, cidades inundadas, florestas queimadas, secas e outros desastres climáticos cada vez mais violentos. Na pandemia, disfunções sociais e econômicas ficaram expostas. A economia foi questionada pelos próprios agentes do poder que antes a defendiam.  Em 2016 pela primeira vez desde que foi criado em 1971, o Fórum Econômico Mundial reuniu o mundo financeiro para falar da crise do capitalismo. Em 2019 o Financial Times, o mais influente jornal de economia do mundo, criou um caderno histórico propondo a mudança do capitalismo. Em 2020 a proposta dos que antes defendiam esse modelo foi dar um grande reset na economia e mudar os paradigmas vigentes do futuro do trabalho e do emprego. Tudo isso levou ao mundo que é hoje em 2050.

Muito do que os futuristas do Projeto Millennium previram décadas atrás no estudo Trabalho x Tecnologia 2050,  se tornou realidade.

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Visão do  homeoffice do futuro no fim do século 19

Fonte: PaleoFutures9

Futuro do trabalho: A economia da auto-realização

Passados 30 anos da pandemia que fez história, vivemos na economia da auto-realização.  Somos profissionais não só liberais como liberados de trabalhos rotineiros, convivemos diariamente com robôs que a exemplo dos humanos, também têm seus direitos.

Assumimos várias profissões ao longo da vida e hoje, em 2050, trabalhamos “com” e não “para” alguém. As empresas não têm mais equipes formais; têm núcleos de profissionais em torno de projetos. O trabalho continua sendo em qualquer lugar. Trabalhamos menos, alguns também ganham menos, outros ganham mais, mas com menos diferenças que antes,  porque foram feitos ajustes entre diferenças de rendimentos e tempos, e isso ajudou a combater o desemprego.

Com o desenvolvimento e acesso público a extensas pesquisas conduzidas por think tanks futuristas como o Projeto Millennium, foi possível para governos promoverem alianças com vários setores da sociedade (empresas, centros de pesquisa, universidades e mídia)  e antecipar-se aos impactos da inteligência artificial.

Sistemas de renda básica universal foram implementados para promover o trabalho autônomo, com tempo livre e flexível. Diante das necessidades expostas depois de 2021 pela experiência da megacrise, vários setores da sociedade se mobilizaram para promover uma grande mudança que transformou o que antes era uma cultura voltada para o emprego para uma cultura de autorealização e trabalho livre.

Foi possível sacudir o que era disfuncional e que muitos ainda chamavam de normal, e mitigar as desigualdades alarmantes com a implementação de propostas (que já estavam sendo testadas em vários países) como a renda básica universal. Com a redução da jornada de trabalho para 15 horas semanais (lembram do Keynes?) indicadores como produtividade passaram a não mais valer para humanos e sim para máquinas. O que era antes medido pelo crescimento econômico que destruía o meio ambiente,  passou a ser medido pelo bem-estar social integrado à regeneração dos ecossistemas e da economia circular.  O PIB (produto interno bruto) foi substituído pelo PBE (produto do bem estar).

Pela primeira vez na história, toda a sociedade se reuniu em torno de conversas sobre futuros desejáveis e novos modelos de trabalho. Produções culturais  como filmes, games, noticiários em realidade virtual, flash mobs, eventos híbridos e phygital abertos para  a participação de todos, novas vozes antes excluídas saíram dos bastidores sociais e se integraram no palco dos debates.

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Futuro do trabalho: Ser alguém na vida ou ser alguém de bem com a vida?

Hoje, fim de 2050 e início de 2051 os sinos festivos badalam pela libertação do emprego como condição de aceitação social e respeito próprio e o futuro do trabalho antes distante, é contemplado e bem recebido atualmente. Aquela ansiedade por “ser alguém na vida” foi se rendendo ao “ser alguém de bem com a vida” com as facilidades da inteligência artificial geral, em meados de 2030.

Empresários recrutam mão de obra de um grupo global de profissionais freelancers, em vez de funcionários tradicionais em tempo integral. A apenas um toque em plataformas digitais facilitadas por inteligência artificial em realidades metaverso, existe a disponibilidade de profissionais “on demand” interagirem com contratantes em diferentes experiências imersivas. Contratações complexas, benefícios onerosos como seguro saúde e previdência social ficaram no passado. Os trabalhadores de menor grau educacional hoje entram em programas de capacitação acelerada para tentar preencher as lacunas de “profissabilidade”, palavra que substitui “empregabilidade”.

A multiplicidade de atividades sucessivas que se entrelaçam, exigem sistemas de aprendizagem contínua e aplicação de saberes interdisciplinares.

Com o advento da robótica assumindo tarefas que antes acionavam mais o lado esquerdo do cérebro humano, têm mais valor as atividades essencialmente humanas relacionadas ao lado direito do cérebro, as que lidam com emoções, intuição, criatividade, julgamentos.  

Em momentos de escassez de trabalho, a renda básica universal garante qualidade de vida e sustenta a dignidade humana com benefícios essenciais que vão além da licença-maternidade de antigamente ou seguro-desemprego. Hoje existe a licença familiar como característica regular do mercado de trabalho que oferece  o suficiente para sustentar um estilo de vida decente e acesso a serviços básicos como saúde, educação e transporte.

Todos essas melhorias que vivemos hoje em 2050 e que em 2021 pareciam inalcançáveis, a partir de 2030  foram orquestradas diante do fracasso da maior parte dos países no alcance dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). O trabalho estava no epicentro das atenções. Programas de fomento ao trabalho decente e qualidade de vida  passaram a ser amplamente financiados por reduções maciças nos custos de produção e energia através de avanços tecnológicos em nanotecnologia, biomimética, ciência dos materiais, e outras inovações que reduziram custos de construção, fabricação, manutenção, água, energia, medicamentos , infraestruturas, etc.  São cobrados impostos pelo uso de tecnologias. Bens básicos são vendidos por cerca de um décimo do que custavam em 2021.

Ao contrário do que muitos pensavam trinta anos atrás, a necessidade de relacionamentos humanos genuínos é maior do que nunca. À medida que o mundo passou a ser mais tecnológico, os excessos do virtual teve impactos devastadores sobre a saúde humana que impuseram o resgate do contato profundo  com a vida natural e com as pessoas.

Futuro do Trabalho: Da sociedade do conhecimento à sociedade do sonho.

Da sociedade do conhecimento passamos a nos definir como a sociedade do sonho que no final do século 20 o futurista Rold Jensen havia imaginado.

As grandes inovações hoje giram em torno do que é essencialmente humano e do que possa enriquecer a experiência das relações, tornando-as mais autênticas e tecidas por histórias. Aliás, contadores de histórias são hoje profissionais dos mais valorizados porque sabem como poucos transmitir emoções humanas que são traduzidas por designers e engenheiros em produtos e serviços. Indicadores de performance como produtividade, competitividade e velocidade são aplicados em robôs e outras tecnologias, mas não em humanos. Hoje temos novos sistemas de avaliação humana como indicadores de empatia, colaboração, compaixão, imaginação e capacidade de produzir sonhos para usufruto público. Alías, “usufruto” passou a substituir a palavra “consumo” que ficou obsoleta por conta do seu significado relacionado a destruição, exaustão.

Futuro do trabalho: Educação dos sentidos

A formação de profissionais preparados para as mudanças que estavam por vir no antes distante futuro do trabalho, impostas pela grande pandemia, contou com novos sistemas de ensino-aprendizagem, por meio de novas práticas que foram destravando a paralisia do sistema educacional na sua maior crise já registrada pela história.  Com o lockdown que tomou de assalto a rotina escolar, os professores já não viam mais saídas para captar a atenção dos jovens pelas telas impostas.  

Novas políticas e alianças inter-setoriais atuaram  por uma nova educação, criaram centros de aprendizagem em rede que, com o passar dos anos, passaram a se conectar com o mundo promovendo troca de saberes e experiências interculturais.  O conhecimento foi ampliado para cada estudante e a experiência didática passou a ser mais diversa e estimulante também para os professores. Hoje, ambientes híbridos agregam dinâmicas prazerosas em salas de aula intercaladas por alguns momentos de ensino remoto que transcendem a visão e a audição e exploram a potência multissensorial.  O que hoje são mentores de habilidades e experiências eram há 20 anos atrás professores desencantados.

A inclusão de novas disciplinas como o futurismo, que capacita os jovens a lidarem com as incertezas e a protagonizarem seus futuros, criou espaço para a criação de novas profissões que não existiam até 2025.

Futuro do trabalho: Profissões que eram impensáveis em 2021 e estão na top list de 2050

Profissionais que estão em alta na metade do século:  contadores de história, hackers do tempo, designers de educação, corretores de novas moedas, cirurgiões remotos, fazendeiros urbano, designers de educação, engenheiros genéticos, engenheiros de tráfego de drones, piloto de drones, chef de cozinha 3D, alfaiates de nanotecidos, chefs de gastronomia molecular, psicólogo de robôs,  técnicos de veículos autônomos, consultores genéticos, arquitetos de realidade aumentada, nostalgista, cirurgiões de amnésia, planejadores de longevidade, gestores de energias limpas, professores de mandarim, alfaiates de nanotecidos, mentores de dados pessoais, apresentadores holográficos 3D, engenheiros de resíduos,  técnicos de energias alternativas, mentores de saúde integral,  fabricantes de órgãos humanos, cirurgiões de memória,  mentores de criatividade,  orientadores genéticos, pilotos para viagens espaciais,  desmaterializadores de realidades físicas, guias de turismo do metaverso,  advogados de legislação espacial, especialistas em ética robótica, analistas econômicos de negócios virtuais, coaches de relacionamento com a natureza.

Olhando para as cinco décadas que já vivemos desse século, planeta se encarregou de ensinar a humanidade o quanto ele é importante. Somos hoje uma sociedade com consciência expandida, tendo superado as limitações cognitivas e as ideologias que nos separavam e nos impediam de encontrar respostas às crises. Ano que vem já é 2051 e temos muitos motivos para celebrar a vida em toda a sua infinita plenitude.

Feliz 2051!

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Rosa Alegria

Pioneira em Futurismo no Brasil, atua como futurista profissional há 20 anos. Está entre as três futuristas mulheres mais reconhecidas na América Latina.

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