O documentário Professor Polvo (My Octopus Teacher, 2020) é a primeira produção sul-africana original da Netflix, que nos oferece um olhar poético sobre as aventuras de um mergulhador nas imediações da Cidade do Cabo.
Craig Foster largou um trabalho estressante, quando viu sua saúde mental se desintegrar aos poucos. Foi através de mergulhos em uma espécie de floresta subaquática que ele encontrou seu processo de cura. Ali, desenvolveu uma amizade incomum com um polvo, que o conduziu ao longo de mais de 300 dias em uma jornada pelos mistérios da vida marinha.
Assim, contemplamos as belíssimas imagens gravadas no fundo do mar, intercaladas com os testemunhos do mergulhador. Ao contrário de intrusivos, os depoimentos de Craig ajudam a construir uma narrativa carregada de filosofias, interação humana com a natureza e dados científicos que ele descobriu através de pesquisas, à medida que se via mais fascinado pelo seu amigo polvo.
É intrigante simplesmente poder testemunhar o comportamento do polvo, uma criatura que possui a maior parte de seu cérebro situado em seus tentáculos e cuja inteligência já foi descrita como a de um “gênio dos oceanos”.
Embora o filme tenha forte tom ambientalista, não se trata de uma produção que perde a mão ao transmitir sua mensagem: através de uma narrativa visual de efeito terapêutico, com tons de “pessoalidade”, o espectador poderá se envolver em suas próprias reflexões.
Sendo assim, compartilhamos algumas lições que aprendemos com o Professor Polvo.
5 lições que aprendemos com o Professor Polvo: É preciso aprender com a natureza
É necessário e imperativo aprender com a natureza. Observar a vida marinha todos os dias, por um longo período, foi uma experiência intensa de impactos significativos na vida pessoal de Craig.
Se pararmos para pensar, o mundo selvagem, onde a natureza age à sua maneira maravilhosamente impiedosa e indiferente aos caprichos humanos, pode ser a fonte de lições valiosas para aplicarmos na vida humana.
Isso porque, neste contato, é possível resgatar aquela verdade adormecida pelo modo de vida contemporâneo: somos parte da natureza. A partir dessa compreensão, talvez passemos a assumir nossa responsabilidade ambiental.
A fragilidade da vida
Craig se vê cada vez mais obcecado pelo seu amigo polvo. A cada dia, ele descobre mais sobre os hábitos da criatura: suas táticas para conseguir comida e se proteger de predadores. Assim como as habilidades de camuflagem impressionantes que ela utiliza para se proteger ou enganar suas presas.
É neste cenário, onde a vida marinha age em seu ciclo natural, em que as ameaças são constantes e onde há recorrentes perseguições de predadores, que Craig começa a refletir sobre a vulnerabilidade da vida.
Estar vivo é correr risco. Tanto na vida selvagem quanto na vida moderna.
Ao temer pela morte do polvo, Craig se dá conta de que a morte é algo iminente. De que, assim como ele, as pessoas que ama um dia também irão morrer.
Uma vez que vemos a morte de perto, ela deixa de ser algo distante ou metafísico e desperta outra verdade adormecida: somos frágeis.
Embora a humanidade tenha alcançado o topo da cadeia alimentar, o ser humano seja a espécie mais bem sucedida, dotada de consciência e avanços tecnológicos e científicos, ainda assim somos frágeis.
Um vírus invisível a olho nu, que age com tal agressividade no corpo humano como o novo coronavírus, nos mostra que não importa se construímos um império, se alcançamos o cargo mais alto de um emprego, quantos bens acumulamos… Em um estalar de dedos, a vida se esvai.
Sabemos disso, inconscientemente, mas nos apropriamos das distrações que a vida moderna oferece, para nos afastar de tal fato.
Se destruímos a natureza para adquirir bens, dentro da lógica de consumo regida pelo capitalismo, destruímos a nós mesmos.
E, se somos tão frágeis quanto qualquer outro ser vivo, você acha que sairemos ilesos dos impactos disso?
A morte não é o fim
A morte é inevitável. Aprendi com alguém que “ninguém morre antes da hora”. Meu professor polvo me ensinou que o ciclo fascinante da natureza, do qual fazemos parte, é este: morte e vida. Como matérias orgânicas, nascemos e morremos, nos tornando parte de onde viemos: da natureza.
O corpo morre, mas se torna matéria para outras formas de vida. Também nos mantemos vivos quando deixamos para trás algo de nós: seja um ato, uma memória ou uma nova geração.
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As conexões que fazemos na vida são únicas
Fazer amizade com um polvo é algo incomum. Craig conseguiu uma das coisas mais incríveis: além de acompanhar quase o ciclo inteiro de vida de um animal selvagem, em seu habitat natural, conseguiu ganhar sua confiança.
Isso nos faz pensar de como cada relação que construímos ao longo da vida é única. E você não precisa necessariamente fazer isso com um polvo para que as conexões sejam fascinantes.
Se fosse qualquer outra pessoa no lugar de Craig, este documentário não seria o mesmo. Ou talvez ele nem existisse.
As relações que traçamos com cada pessoa, durante a vida, jamais serão iguais. Assim como os outros jamais terão relações iguais as suas.
Cada relação é única, e é feita de fragmentos tão pessoais e singulares devido a um único fator em comum: porque é você quem as constrói.
Este é um grande motivo pelo qual você deve olhar para as pessoas que estão a sua volta de maneira especial, e também para ver em si mesmo a oportunidade de construir suas próprias relações.
E, se a vida é tão frágil, será que não é isso que a torna valiosa?
O contato com a natureza é transformador
É bonito o processo de metamorfose pessoal que Craig experimenta à medida que desvenda os mistérios do mar e criar laços mais fortes com seu amigo polvo. Neste processo, ele se aproxima das questões que antes se via cada vez mais distante: de sua família, de si mesmo e da natureza.
A sua experiência foi tão intensa, que o inspirou a fundar o projeto Sea Change, uma comunidade de cientistas, storytellers, jornalistas e cineastas que se dedicam a contar histórias que conectem as pessoas com os oceanos.
No mar, ele vê a oportunidade de fazer uma atividade em comum com seu filho. Assim, eles fortificam seus laços e seu filho também se transforma devido o contato com a natureza. Dentre as principais transformações que o pai diz saltar aos olhos é a de que o filho se tornou uma pessoa mais gentil.
É um ponto de reflexão muito importante, esse sobre o poder do contato com a natureza de dissociar nosso ego em um nível que pode nos tornar mais gentis com nós mesmos, com os outros e com o próprio meio ambiente.
Você não precisa mergulhar como Craig para descobrir isso. O que fica como lição é que cada um é atraído pelo que lhe faz bem.
Onde você se sente bem, e como você acha que pode começar a aprender com a natureza?
Se a relação homem-natureza é tão antiga quanto a própria existência humana na Terra. Se originamos nesta Terra e dependemos da natureza como fonte de sobrevivência, será que não é nela que encontramos a cura para os efeitos massacrantes do modo de vida contemporâneo?
E você, quais lições aprendeu com o Professor Polvo?
Fonte: GEEKNESS