Esta publicação é uma continuação do artigo com o mesmo nome (parte I) onde a Futurista Polina Silakova faz relações de convergência entre a prática terapêutica e a prática futurista através da ferramenta de Prospectiva Estratégica denominada “Três Horizontes”. Onde foi explorado o Horizonte 1, através do uso de narrativas, a ênfase na construção da resiliência para se passar pelo que estaria por vir, além do exercício da criatividade. Tradução por Juliana Magalhães.
Convergências entre Futurismo e Psicologia diante da Pandemia e outras incertezas: parte II (Horizontes 2 e 3).
Como usar o potencial oculto da pandemia para uma transformação pessoal.
Esta postagem continua explorando a estrutura “Tres Horizontes”, que se aplica à pandemia. Na última vez, falamos sobre o primeiro horizonte que se concentra na construção de resiliência. É uma base essencial para superar tempos turbulentos e para o pensamento conceitual e criativo que agora é necessário mais do que nunca. Também discutimos como as diferentes narrativas que usamos para dar sentido ao que está acontecendo, criam nossas imagens e expectativas sobre o futuro e, portanto, nos motivam a agir de maneira a moldar esse futuro em particular. A narrativa que considero útil é que a pandemia é um teste: pode nos transformar se escolhermos pela ransformação. Vamos explorar como podemos usar essa narrativa para fazer melhores escolhas pessoais para um futuro melhor.
Horizonte 2 — O túnel das escolhas
A ideia de passar em um teste, como reconhecimento de uma transformação pessoal, uma mudança no status de alguém não é nova. Durante séculos, tradições como ritos de passagem costumavam significar a transição dos membros do clã de um estágio da vida para outro. Por exemplo, a tribo Sateré-Mawé, da Amazônia brasileira, desafia seus meninos de 13 anos com o ritual denominado “iniciação à formiga-bala” como a prova de que eles estão prontos para se juntar a membros adultos da sociedade. Vinte vezes ao longo de vários meses, os meninos passam por um teste de resistência de dez minutos: usam luvas cheias de formigas-balas vivas que os picam. Como parte do desafio, eles não devem chorar ou mostrar fraqueza: ser capaz de lidar com a dor significa que se está pronto para a masculinidade.
Embora nem todos os ritos de passagem sejam tão dolorosos, todos eles têm algo em comum. Há um momento de ambiguidade e desorientação entre o início do ritual e seu fim, em que os participantes já haviam se separado de seu status anterior, mas ainda não haviam conquistado o novo status. Esse período de tempo é denominado “liminalidade” ou “espaço liminal”. O significado desta palavra latina descreve uma situação em que “o que foi” se foi, mas “o que vem a seguir” ainda é desconhecido. É quando as soluções do passado não são mais eficazes, as novas soluções ainda não são conhecidas e é difícil dizer quando essa incerteza acabará. É como se mover ao longo de um túnel escuro: sentindo-se um pouco claustrofóbico, sem saber quanto tempo teremos para permanecer neste lugar perturbador e até mesmo se veremos a luz no final. Soa familiar? Isto se assemelha ao segundo horizonte da pandemia: a Grande Pausa.
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Todos nós já estivemos em um espaço liminar antes da pandemia. Seja ao deixar um emprego sem ter uma alternativa, ao terminar um relacionamento ou numa mudança para outro país — qualquer mudança na vida quando o que costumava ser a norma se foi, mas nada ainda preencheu o espaço. O novo normal não se formou, você não entendeu as regras do jogo (ou não as estabeleceu). Apesar do desconforto da incerteza, o espaço liminar é cheio de potencial oculto. Ele nos oferece a escolha: transformarmo-nos até o outro lado do túnel ou apenas transitarmos para o outro lado, carregando nossos velhos hábitos conosco, permanecendo imunes à mudança?
Se a pandemia é o rito de passagem da humanidade, nos testando se passamos de um estado adolescente para uma idade adulta mais consciente, como saberemos se passamos no teste? Como podemos mudar da atitude do “-me dá!”, adolescente, para relacionamentos mais maduros com os outros e com o planeta, assumindo nossas responsabilidades de tutela e governança, mostrando empatia e compaixão? Será que desta vez, apesar de todas as tristezas que nos trouxe, a pandemia significa um presente para nossa civilização, levando-nos a pensar nas perguntas que há muito esperavam ser respondidas:
. Eu ou nós?
· Crescimento ou o planeta?
· Hoje ou amanhã?
· E, mais importante, como podemos passar de “ou” para “e”?
Vamos abraçar a incerteza e seguir em frente através do túnel ou vamos nos virar e voltar aos velhos hábitos? O segundo horizonte é quando algumas de nossas ações resistem às mudanças, tentando restabelecer o antigo normal, algumas nos ajudam a nos adaptar às mudanças e outras reorganizam as estruturas e sistemas atuais, oferecendo vislumbres em um futuro alternativo. E cabe a nós quais desses fatores de mudança apoiaremos.
Aqui está como o Horizonte 2 da pandemia se parece na prática:
Horizonte 3 — Do outro lado do túnel
Como as escolhas coletivas são uma soma de nossas decisões individuais, como podemos fazer uma escolha melhor em nível individual? Graças à nossa visão para o terceiro horizonte podemos projetar para o outro lado do túnel as imagens do futuro que queremos ver lá. Manter essas imagens em mente enquanto estamos no túnel, enquanto temos a opção de avançar ou voltar, faz do “espaço liminar” um lugar de enorme potencial.
Para que as imagens do nosso futuro preferível sejam eficazes para nos ajudar a nos aproximarmos da melhor versão melhor de nosso futuro, elas precisam ser específicas. Ninguém jamais foi motivado pelo visual de uma névoa ou de uma foto pixelizada. As imagens precisam ser tão específicas ao ponto que possamos senti-las. Dessa forma, nossas emoções farão o que tiver que ser feito e nos proporcionarão o “agenciamento” (referente ao Horizonte 1), de que precisamos, para seguir adiante. Para desenvolver essas imagens motivadoras, continuemos a fazer perguntas:
· Quais valores são importantes para você? Como você pode permanecer fiel a eles, mais do que nunca, e priorizar o que é realmente importante para você todos os dias? Se você valoriza o desenvolvimento pessoal, isto é algo com o qual você pode iniciar seu dia?
· Quais visões de mundo e suposições sobre como deve ser o futuro que você deseja provocar? Como você pode provocar em si mesmo essas suposições, experimentando novas abordagens?
· Como você pode alavancar seus pontos fortes para criar mais valor para os outros e prestar serviço neste futuro? Que sinais fracos sobre as necessidades do futuro ressoam em você e se alinham ao seu conjunto de habilidades?
· Quais hábitos e comportamentos antigos você deseja deixar no túnel? Quais são as suas suposições e crenças subjacentes que criam uma barreira para a mudança? Desafie-se em 21 dias a desenvolver um novo comportamento e veja sua vida mudar.
. Quais opções você priorizará? E como você pode reformular a escolha de “ou” para “e” para si mesmo, mesclando o que, no passado, poderia ter parecido impossível de misturar? Casa e trabalho / educação; distância e conexão; reciclagem e conveniência; suficiência e moderação — você escolhe!
Embora essas questões possam ser racionais, o objetivo final é sentir como é fazer essas mudanças e viver naquele futuro. Uma vez que você possa sentir o futuro, esse futuro também poderá sentir você, e você começará a receber dicas pessoais e sinais fracos que mostrarão o caminho para isso.
Considerações finais:
Embora a pandemia seja um teste ao sistema de saúde e à saúde de todos os indivíduos, ela não deve ser medida apenas em aspectos positivos e negativos. Não se trata apenas de passar ou falhar. É sobre como passamos por isso e se nos transformamos como resultado. Como os meninos da tribo Sateré-Mawé, que suportaram com êxito seu doloroso rito de passagem sem demonstrar fraqueza, coletivamente, podemos transformar e passar para um estágio mais maduro da civilização. Ou podemos optar por reforçar velhos hábitos e apenas fazer a transição para a idade adulta sem a transformação subjacente. A escolha é guiada por nossos valores, nossas imagens do futuro e nossa disponibilidade para trabalhar em nossa imunidade arraigada à mudança.
O custo da pandemia é algo que nunca poderíamos nomear, pois nenhum preço pode ser colocado na vida humana. Mas a pandemia também é um presente — se pudermos usá-la para aprender nossas lições e nos transformar nos níveis individual, coletivo e civilizacional.
O túnel para a Psicoterapia:
A passagem por um túnel também pode ser utilizada como metáfora para o processo pelo qual o paciente/cliente passa, junto com o terapeuta, enquanto em terapia. Dentro deste túnel ou, em outras palavras, em terapia, o cliente passa de uma fase “ordenada” (ou já “desordenada”) anteriormente, para uma fase de relativa desordem para posterior reorganização. Este processo é denominado de “fase de transição”, termo oriundo das ciência da Complexidade, utilizado para sistemas adaptativos complexos e aplicado desde a organismos e indivíduos até organizações e sociedades, incluindo ao campo da Psicologia, a partir da década de 80 e, principalmente, a partir de 1991, quando da criação da Society for Chaos Theory in Psychology and Life Sciences em São Francisco, EUA . Durante a “fase de transição” para o futurismo, ocorrem emergências de possiveis futuros e para a terapia ocorrem emergências de novas capacidades no paciente/cliente . Uma das emergências na terapia é a capacidade de “auto-observação” em que o paciente/cliente adquire, a partir do processo de introjeção de parte da fução do terapeuta, a capacidade de “auto-observação”. Enquanto no Horizonte 2 aplicamos técnicas de estudos de futuros para explorar as mudanças e seus impactos, no Horizonte 3 treinamos e ensaiamos para a saída do túnel.