Vem sendo cada vez mais notável a exposição da inclusão, diversidade e representatividade. Vamos refletir sobre a manifestação desse comportamento mercadológico e social, aplicado nas campanhas do segmento de moda.
Podemos crer que a esfera fashion muitas vezes impulsionada pela simetria estética e aparência “padronizada”, está mais desprendida e realista? Sim, já que a moda e como nada no mundo, não pode ser caracterizada por idade, etnia, nível social ou qualquer outro taxativo.
Miscigenação, a aceitação de grupos distintos, a riqueza dos aprendizados de diferentes públicos e faixas etárias, o conhecimento sagrado dos anciãos, sempre serão pilares que conduzem o universo cultural ao longo da história. E moda é acima de tudo, um viés da cultura.
Há tempos clamamos por uma sociedade mais coerente e vanguardista, por exemplo, sempre estivemos condicionados a acreditar que pessoas vistas como “atraentes” são mais bem sucedidas e que campanhas representadas por pessoas jovens e em pleno vigor, são mais aceitas, enfim, falsos clichês.
Mas afinal, o que realmente os consumidores esperam? Certamente ver a realidade de uma moda direcionada a humanização e valorização do corpo como ele é, livre de prejulgamentos, discriminações e até mesmo das intervenções digitais.
Seria muito decepcionante pensar que nossos desejos são despertos e ovacionados apenas por corpos considerados perfeitos ou até mesmo simulacros.
Com a valorização e aderência de movimentos como ‘’Body Positive” e “The Ageless”, muitas empresas têm a possibilidade de abnegarem do recurso da manipulação digital, que muitas vezes gera uma imagem distorcida do corpo feminino ou masculino.
“Uma imagem é carregada de sentidos e significados que não se restringem a seu contexto original. Qual é então o real valor de uma imagem?”
Corpo, Moda e Ética: pistas para uma reflexão de valores / orgs. Cristiane Mesquita, Kathia Castilho/ Editora Estação das Letras e Cores, São Paulo 2012.
Pensando no real valor de uma imagem, somos submetidos a ter a consciência de que ela deve dizer algo, portanto, ao vermos corpos repletos de pluralidades criando notoriedade publicitária, compreendemos que a diretriz da marca ou produto em questão, é inclusiva, não detentora de qualquer tipo de rotulagem e livre de limitantes. Claro, isso não se refere a um fator pontual e sim a expressão de uma macrotendência.
A beleza está justamente nas diferenças, na multiplicidade, moda não tem arquétipos e todos os indivíduos são aspiracionais. O fator determinante vai além da aparência, a liberdade e despretensiosidade com relação aos padrões impostos pela sociedade, são motivos suficientes para despertar um desejo dominante.
No caso da exposição do envelhecimento, o encantamento vai muito além da imagem ali representada, é uma ideologia incorporada.
Existe uma sincera citação da obra literária “Corpo, Moda e Ética”, que traduz a velhice de uma maneira nada frágil.
“Quando penso em uma forma positiva de envelhecer, penso em Ney Matogrosso e em outros homens e mulheres que nunca foram e nunca serão controlados pelas normas sociais. São esses indivíduos, que se reinventam permanentemente, que podem nos ensinar sobre a “bela velhice”. ”
Corpo, Moda e Ética: pistas para uma reflexão de valores / orgs. Cristiane Mesquita, Kathia Castilho/ Editora Estação das Letras e Cores, São Paulo 2012.
Muito além de glamour, a moda é o reflexo e representação de fatores sociais. Então quando falamos de uma moda sem limitantes, nos desvinculamos do estereótipo único e permitimos trabalhar a diversidade, sem objeções.
A publicidade que permeia esse segmento, como qualquer outra, é movida pela sedução. E essa nova era está questionando os padrões do que é realmente considerado atrativo.
O desejo é algo individual, motivado pela resultante entre personalidade, atitude e estilo original. Características que independem de paradigmas.
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A beleza nua e crua está sendo introduzida ao âmbito aspiracional da sociedade e criando o conceito de uma moda tangível.
Vejo hoje principalmente a linguagem promocional mais livre da ambiguidade, sendo tratada de maneira imparcial. As pessoas além de fisicamente distintas, pensam diferente, portanto, a conversa precisa ser direcionada.
Muitos processos indústrias e estratégicos estão sendo readequados para este “novo” olhar. O segmento cosmético que anda de mãos dadas com a moda, já vem há tempos se especializando e desenvolvendo produtos e campanhas para diferentes tipos de pele, biotipo e fases da vida. Oferecendo a possibilidade de cada indivíduo se sentir realmente representado.
Um outro exemplo sólido, marcas estão surgindo com o posicionamento do gênero fluido. Com o propósito de criar e comercializar peças de roupas visualmente e confortavelmente neutras, desenvolvidas para o uso de ambos os sexos.
Adicionando mais amostras interessantes, no ano passado uma conceituada marca de joias exclusivas, criou sua campanha estrelada por uma personalidade renomada no âmbito da moda e pertencente ao grupo da terceira idade. O resultado? Fotos repletas de elegância, naturalidade e beleza. Uma fusão entre o passado e futuro.
Vimos já neste início de ano, desfiles de grifes renomadas levantando a bandeira da inclusão e apresentando suas coleções mais descontruídas, com modelagens neutras, e materiais diversificados, ganhando vida ao vestir modelos dos mais variados perfis.
Agora analisando um fato indireto, a tendência da reutilização e recriação de roupas, o upcycling. Será que o movimento deve ser somente associado a sustentabilidade? Acredito que não, cada peça trabalhada e divulgada conta uma história, carrega momentos vividos e traz múltiplas personalidades de diferentes pessoas, com tudo, moda é coletivo. Ela é feita por todos, dirigida por um a legião de pessoas diversificadas que juntas impulsionam essa indústria extremamente potente.
A moda respira mudança, não existe a possiblidade de enquadrá-la e rebaixá-la por padrões. Seria muito pequeno criar limites para algo que respira abrangência e heterogeneidade. E levanto aqui o questionamento da autora Denise Pollini em sua obra literária “Breve História da Moda”.
“Se a moda significa mudanças, o que causa estas mudanças? O que leva as pessoas a gastarem tempo, e principalmente dinheiro, aplicando-os, em uma peça de roupa que vai se tornar, logo, fora de moda?”
POLLINI, Denise. Breve História da Moda / Editora Claridade, São Paulo 2007 / Coleção Saber de Tudo.
As constantes evoluções e transições da moda, são construídas por acontecimentos históricos, sociais, comportamentais e econômicos. O que justifica a rapidez com a qual ela se apresenta perante todos, em curtos prazos.
A indumentária sempre teve o papel de distinguir grupos e categorizar, mas aí está a justificativa ao questionamento da autora, há muitos anos as vestes vêm se popularizando e proporcionando o sentimento de inclusão.
O propósito das criações e da linguagem de comunicação de cada produto, segue cada vez mais direcionado para a diversidade, em atender inúmeras necessidades e estar ao alcance de todos.
A publicidade de moda vivencia um momento de real exposição do seu processo de origem a concepção, ao começar contar a história sem barreiras e imposições.