Acostume-se ao novo normal – O império da incerteza.
Tudo o que supostamente conhecíamos até o momento vem se dissolvendo. Navegar na neblina da incerteza exige adaptação, definir o Norte como estratégia e ir ajustando a tática na navegação turbulenta conforme novos dados chegam, reposicionando e seguindo em frente, e como observando um iceberg, onde só conseguimos ver apenas a sétima parte que emerge, esta pequena parte visível indica profundas transformações, nas relações, alternativas de serviços e trabalhos remotos, um divisor de águas para a humanidade.
Momentos de crise forjaram várias ideias inovadoras, como na grande depressão 1929 / 1931 quando o mundo ainda se recuperava das consequências da primeira grande guerra, pequenas empresas surgiram, como Unilever, KFC e tantas outras. Propostas novas como o Fusca, idealizado pela Porsche, base de outras empresas, ou como um pequeno fabricante de brinquedos que pressionado pela crise resolveu focar na produção de bloquinhos que se encaixavam gerando outros brinquedos, assim consolidou a Lego. A Nestlé foi desafiada pelo governo Brasileiro a ajudar a preservar os excedentes de café pelas baixas vendas devido ao colapso da Wall Street e imaginaram um novo processo de torrefação criando o Nescafé, cujo produto e ainda hoje é uma das unidades de negócios mais rentáveis da empresa.
Num mundo complexo de economia global interconectada e interdependente, se expõe a vulnerabilidade do sistema. É preciso uma visão de longo prazo para novos cenários, que produzem novos contextos econômicos e tecnológicos, cada vez com maior velocidade, numa revolução social e suas implicações em uma nova orientação geopolítica.
Nossas limitações ficaram a mostra e a necessidade trará a mudança. Seremos obrigados a repensar um mundo novo. Qual mundo desejamos? Por mais absurda que possa parecer a resposta, temos escolha.
Um novo mundo surge, e seja ele qual for, a oportunidade é fazer do novo, algo melhor.
O passado é obsoleto, diante do fato de como era não volta mais, e que o que sabemos, aquilo que nos trouxe até aqui, não nos levará adiante. Não há dados do passado que possam apenas ser replicados e fórmulas vencidas não fazem efeito nesse momento e que nos tragam soluções, estamos aprendendo com, ou melhor, no processo. Precisamos de novos meios, de novos modelos sociais e econômicos, de produção e ambiental, científico e político, e de como nos relacionamos, tudo afetará nossa vida.
Neste momento a liderança é posta em cheque e um desafio como humanidade, a incerteza relembra a todo o momento que não a compreendemos e nos sentimos ameaçados. No império da incerteza, criar cenários com as informações que temos ajuda a formar estratégia, apontar um Norte para não ficar mudando de direção, baseado em evidências e ir fazendo ajustes táticos conforme novos elementos são agregados, julgando e ir modulando conforme adiciona informações ao sistema.
A mudança externa provoca a mudança interna, a inovação. Na incerteza prolongada, aplique o equilíbrio entre ‘calma deliberada’ e ‘otimismo limitado’, confiança combinada com o realismo.
Analisar e compreender causa e efeito possibilita enfrentar melhor a incerteza. Prospectar possibilidades, avaliar ações e consequências ajuda a entender o sistema, possibilitando mudanças rápidas de rumo enfrentando a ambiguidade, com foco e visão para combater a volatilidade.
Adaptar e comunicar: comunicação é a ‘cola’ desse momento onde a sobrevivência mais do que nunca depende de colaborar, compartilhar e agir. Se você lidera uma equipe, mantenha a transparência, transmita confiança e forneça atualizações constantes em um único canal oficial de comunicação. Confiança combinada com realismo, trabalhamos juntos para buscar soluções para resolver problemas.
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Colaboração passa a ser a chave para a sobrevivência: damo-nos conta que sozinhos não conseguimos fazer tudo que é preciso, mas que indivíduos são parte de um ecossistema maior, cada um com sua importância e relevância, se apoiando mesmo ainda num ambiente de tantas incertezas, ambiente esse que permanecerá incerto, e é nele que precisamos aprender a viver.
No artigo anterior (leia aqui) cito que o mais importante são as questões que emergirão, não as tecnológicas, mas as questões éticas, morais e culturais, que são essencialmente humanas.
No ‘distanciamento social’ imposto trazemos a tona um questionamento: estamos tratando como se fosse novo, mas e se não for, e se justamente chegamos nesse ponto por causa do distanciamento social, aquele que diferenciamos por classes sociais.
A diferença reside que antes preferíamos andar com nossos pares, apenas aqueles com os quais nos identificávamos ou aqueles que escolhíamos por conveniência e oportunidade, e desta vez fomos obrigados, sem opção de escolha, a ficar longe daqueles que mais apreciamos o convívio. Alguns experimentaram o total isolamento com solidão, uma sentença tão mortal quanto a pandemia ou foram surpreendidos com gestos e atitudes inesperadas, as vezes de estranhos, ou de vizinhos, por vezes estranhos também, como exemplos que vimos em toda parte, atitudes de humanos, aumento de autoconsciência e inteligência emocional.
De certa forma, como o fim de uma era de escravidão ao modelo do passado, o fim da ‘detenção’ nos trará o momento do novo, e desencadeará a mudança em cada um. Em novembro do ano passado, ao encerrar o Web Summit em Lisboa, o presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Souza disse: …’não podemos deixar ninguém para trás’… O momento chegou!
Estamos sendo testados, enfrentamos o stress, cooperamos e superamos. Resistir a mudança ou desistir não é uma opção. Com uma mudança de foco do design do sistema, do ‘eu’ para ‘nós’, para além do design centrado no usuário para a visão sistêmica do design para toda a vida.
Pessoas, empresas e organizações que entenderem que as causas são importantes nesse novo normal, emergirão como vencedores.
Future-se! Por Paulo Gianolla