Biohacking – Brain Computer Interface, por Wagner Sanchez, Prof. PhD
1. O que é e como funciona o Brain Computer Interface?
Em português podemos traduzir Brain Computer Interface para interface cérebro-máquina. Trata-se de qualquer sistema computacional formado por hardware e software com a capacidade de traduzir impulsos neurais em comandos computacionais que possam acionar algum dispositivo externo.
O BCI não é uma concepção recente, mas com as evoluções tecnológicas e, consequentemente, com a miniaturização e a diminuição dos custos dos dispositivos, é possível, hoje, implementar soluções de BCI em laboratórios simples.
Para um entendimento simplificado, podemos dizer que um projeto de BCI possui duas partes:
– A primeira parte do projeto contempla os dispositivos miniaturizados com tecnologia de ponta embarcado, capaz de captar impulsos cerebrais e/ou campo magnético gerado pelas sinapses entre os neurônios e transformá-los em sinais elétricos.
– A segunda parte do projeto é simples e conhecida pela maioria das pessoas: a implementação de um sistema simples de hardware e software para transformar estes sinais elétricos, que representam os impulsos cerebrais, em comandos para o controle de dispositivos externos usando, por exemplo, uma placa de Arduino e um computador.
2. Ainda está em fase de criação/aperfeiçoamento ou já há aplicações práticas?
As soluções ainda estão evoluindo, mas já existem algumas aplicações que trazem ótimos resultados, como por exemplo: Paraplégicos que controlam suas cadeiras de rodas com ondas cerebrais; solução para transformar ondas cerebrais em palavras que estava sendo testada para ajudar o cientista Stephen Hawking a se comunicar; a solução do Neurolink, de Elon Musk, que promete conectar o cérebro ao computador; a solução que temos aqui na FIAP que demonstra o quanto a pessoa está se concentrando, indicado para avaliar o progresso do tratamento de crianças com transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Nesta solução, que desenvolvemos aqui na FIAP, quanto mais concentrada estiver a pessoa, mais lâmpadas se acendem. Isto torna tangível o que antes era intuitivo, ou seja, é possível aferir se um paciente está conseguindo evoluir na habilidade de concentração.
Outro projeto incrível é o do cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que obtém comandos cerebrais com toucas de eletrodos e os transmite para um exoesqueleto vestido por uma pessoa com paralisia. Ou seja, o exoesqueleto é acionado diretamente pelo cérebro, dispensando os meios naturais de conexão, que são a medula espinhal e os nervos. Desta forma, o projeto devolve mobilidade a pessoas com lesões na medula espinhal.
3. Quais são as aplicações pensadas para o futuro?
Até hoje, os humanos utilizam a escrita, a fala, os gestos, o toque para se comunicar – formas que podem ser substituídas por uma transmissão mais eficiente e direta. Ou seja, se todo o nosso processamento tem origem no cérebro, porque não se estabelecer uma conexão mais diretamente da origem ?
O que fazemos hoje é processar as informações no cérebro, delegando para outro órgão sua transmissão para o mundo. A ideia é eliminar este órgão intermediário e realizar a comunicação diretamente por meio de ondas cerebrais.
Outras aplicações estão relacionadas a sanar os malefícios causados às pessoas que possuem lesão na medula óssea, dispensando a medula espinhal e os nervos como condutores dos comandos cerebrais e fazer com que o cérebro se comunique diretamente com exoesqueletos.
4. Que usos negativos podem ser feitos dessa tecnologia?
Como todas as evoluções tecnológicas, existe a possibilidade de uso negativo por pessoas mal-intencionadas, que vão de extração de biossinais sem a devida permissão do usuário, até o hackeamento e o controle de pessoas e animais.
Daí a importância de uma ampla discussão sobre o assunto, pois as pesquisas estão em andamento no mundo todo, sem qualquer regulamentação e o preocupante é começar a dar atenção somente quando coisas ruins começarem a acontecer com pessoas.
5. Há um inventor da tecnologia?
As primeiras iniciativas de Brain Computer Interface modernas apontam para pesquisas realizadas na década de 1970 na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Porém, outros dizem que BCI já estava presente na descoberta da electroencefalografia, em 1924, pelo psiquiatra e neurologista alemão Hans Berger.
Hans Berger foi o primeiro a conseguir detectar a atividade elétrica no cérebro humano e assim chegar ao primeiro eletroencefalograma. Para tanto, na época, o médico alemão utilizou fios de prata por debaixo do escalpo de seus pacientes.
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