Existem diversas enzimas Cas, mas a mais conhecida é chamada Cas9. Ela vem da Streptococcus pyogenes, uma bactéria conhecida por causar infecção na garganta. Juntos, eles formam o sistema CRISPR/Cas9, frequentemente abreviado para apenas CRISPR.
Muitos experimentos científicos são feitos e limitados a poucos organismos (camundongos, ratos, moscas, um nematódeo chamado C. elegans, peixe-zebra). Isso porque esses são os organismos que os cientistas estudaram mais de perto e sabem como manipular geneticamente.
Mais próximas da realidade estão outras criaturas geneticamente modificadas — e não apenas as em laboratório.
A capacidade de corrigir erros de DNA significa que o CRISPR poderá criar novos tratamentos para doenças ligadas a erros genéticos específicos, como fibrose cística ou anemia falciforme. Como não se limita a seres humanos, as aplicações são quase infinitas, O CRISPR poderá criar plantas que produzam frutos maiores, mosquitos que não transmitam a malária, ou reprogramar células cancerígenas resistentes a medicamentos. Também é uma ferramenta poderosa para estudar o genoma, que permite aos cientistas ver o que acontece quando os genes são desativados ou alterados dentro de um organismo.
O CRISPR ainda não é perfeito. Nem sempre faz apenas as modificações pretendidas, e, como é difícil prever as implicações a longo prazo de uma modificação CRISPR, essa tecnologia levanta questões éticas importantes.
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E o que vem sendo feito na prática?
O autointitulado “biohacker” Josiah Zayner está sob investigações das autoridades médicas do estado da Califórnia, Estados Unidos, sob suspeita de fazer exercício ilegal da Medicina. Zayner ficou conhecido em outubro de 2017, quando, após ingerir consideráveis doses de uísque, fez uma transmissão ao vivo onde injetou em seu braço o que dizia tratar-se de uma seringa contendo o DNA da ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9, dizendo que isso lhe permitiria crescer mais músculos.
“Biohacker” conhecido por injetar CRISPR no próprio corpo está sob investigação
Zayner é o CEO de uma empresa chamada The Odin e possui diplomas e certificados em biofísica, mas não tem licença para exercer profissões médicas. Em sua empresa, Zayner especializou-se em vender para o cidadão comum kits “faça você mesmo” de experimentação genética em plantas, animais e até humanos. O próprio CEO já tentou, com as ferramentas da própria empresa, realizar procedimentos como um transplante fecal em um aeroporto, em 2016; e a engenharia genética da própria pele, em 2017.
Em 2018, porém, ele assumiu uma posição mais cautelosa, culpando-se pelo crescimento do mercado de biohacking e o aumento de pessoas protagonizando autoinjeções dos mais variados tipos.
“Honestamente, eu meio que sou responsável por isso”
Agora, a situação cresceu o suficiente para que as autoridades tomassem nota: em uma carta compartilhada pelo próprio Zayner em sua conta no Instagram, o Departamento de Assuntos do Consumidor (DCA, na sigla em inglês) diz que “investigadores estão agora em uma fase de nossa análise onde nós gostaríamos de conversar com você [Zayner] sobre este assunto”. A entidade pede que Zayner agende com eles uma entrevista e anotaram na carta: “Nós vamos também discutir os seus negócios”.
Zayner defendeu-se das acusações, alegando inocência e criticando as autoridades médicas: “A verdade é que eu nunca dei a ninguém nada para que eles se injetassem ou tomassem, nunca vendi nenhum material destinado ao tratamento de doenças, e nunca aleguei que pudesse oferecer tratamentos ou curas pois sabia que este dia chegaria”, ele conta, referindo-se à carta e à investigação. “A parte mais f**a disso é que tem tanta gente morrendo não por minha causa, mas porque a FDA [agência regulatória de saúde nos EUA, similar à Anvisa, no Brasil] e o governo recusam-se a dar às pessoas o acesso a tecnologia e tratamentos de ponta ou, em alguns casos, até mesmo o mais básico plano de saúde. E mesmo assim, eu é que sou ameaçado com cadeia”.
Segundo a legislação norte-americana, a prática da medicina sem a devida licença pode gerar multa a partir de US$ 150 mil, em casos sem risco; ou até três anos de reclusão e encarceramento, em casos mais graves.
Quer saber mais sobre o assunto? Tem uma série documental na Netflix bem explicativa:
Fonte: GIZMODO | TED-Ed | CanalTech