ECOSSISTEMA ORGÂNICO
Este artigo está sendo escrito em uma noite de domingo. Uma noite de domingo. Seguimos isolados em função da pandemia COVID19. Sinto a necessidade de pontuar este momento, pois todo meu pensar e as reflexões que trago partem deste lugar apoiadas por um repertório que já observo e analiso faz tempo. Estamos isolados em uma época de isolamento global, o Planeta está recolhido. Outro dia, enquanto escutava um podcast sobre a Teoria Integral de Ken Wilber, o interlocutor comentava sobre a “crise integral” que estamos experimentando, provavelmente a primeira em tamanha dimensão nos tempos modernos. Estamos vivendo a transitoriedade de forma intensa e jamais projetada anteriormente. Estamos vivendo a mudança. Estamos vivendo a oportunidade de fazer um “reset” no sistema. É sobre este momento que estou a refletir. Sinto que é mais que um “reset“.
Hoje pela manhã, assim como aconteceu outro dia, ficamos sem wi-fi aqui em casa. A recomendação da operadora foi tirar o roteador da tomada, aguardar 5 minutos e somente depois ligar novamente para “Re-Estabelecer” a conexão. Penso nestes 5 minutos fora da tomada. Penso nestes 5 minutos “unplugged“. Enquanto o wi-fi não volta eu me conecto comigo, qualquer semelhança desta minha “Re-Conexão” com o que estamos todos vivendo é mera coincidência, ou não. É como a música do Raul Seixas que fala no dia em que a Terra parou, a diferença é que o roteador ficou 5 minutos desligado, na música foi somente 1 dia (e foi uma eternidade), e o que estamos vivendo são absurdos mais de 45 dias, em alguns locais se fala em 60 ou mais dias de isolamento. Absurdos, necessários, nem tanto, talvez sim, quem sabe até mais. Não é esta a questão que trago. O que trago são questionamentos, reflexões. Pra onde estamos indo? Seremos diferentes mesmo que sendo os mesmos? O que faremos? Qual a oportunidade? Quais serão as marcas, as cicatrizes? Como estaremos quando isso tudo passar? Trago também um olhar sobre os impactos, os efeitos desses impactos, as reações das pessoas aos efeitos dos impactos e por fim, o que podemos fazer?
Já faz um certo tempo que eu venho com a sensação e o pensamento de que há uma nova Era emergindo. Já lí e já escutei diversas abordagens sobre esta questão. Algumas pessoas fazem de tudo para nutrir este novo campo que chega, que emerge, que se manifesta. Um campo que propõe atitudes mais colaborativas, maior inclusão, empatia, um olhar integral do Ser Humano e a ampliação da consciência. Outros, fazem de tudo para impedir que esta nova Era chegue, atuam de forma a manter o status quo, manter o modelo estrutural de comando e controle com o qual estamos acostumados em diversos ambientes como na escola, na família, na religião, nas relações afetivas e nas organizações. Estamos isolados, muitos que podem estão em suas casas. Agora, neste exato momento em que reviso este artigo o mundo contabiliza 4.371.611 casos e 297.682 mortes. O Brasil já tem 192.081 casos registrados com 13.276 mortes (dados de quinta-feira, 14 de maio de 2020 – Fonte Wikipédia). Estamos vivendo as regras do isolamento. Alguns chamam de confinamento. Quem pode, fica em casa. Muitos não podem, não devem ou não querem.
Não estamos falando de uma espécie de Ctrl + Alt + Del a fim de reiniciar o sistema. Não vamos reiniciar o sistema. Também não se trata de uma troca de sistemas ao estilo que ocorre em ambientes organizacionais, quando se troca apenas este por aquele outro. Não é uma troca de nomes ou de marcas de sistemas que fazem mais do mesmo com diferentes melhorias aqui ou alí. Não trata-se exatamente de atualizar o app na sua loja virtual para uma correção de “bugs” ou acréscimo de funcionalidade. Creio que não estamos falando de um ajuste ou de melhorias. Também não paramos este tempo todo para fazer uma grande “Lean Inception (método Direto ao Ponto)” a fim de pensar novas funcionalidades para uma nova Era que emerge sem lenço e sem documento. Não é isso!
Meu olhar, e para o qual eu faço o convite à reflexão, é sobre a possibilidade de efetivamente estarmos migrando de um modelo de SISTEMA MECÂNICO para um novo modelo de SISTEMA VIVO ou se preferirem, ECOSSISTEMA ORGÂNICO.
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E se de fato estamos migrando para um possível ECOSSISTEMA ORGÂNICO, é provável que ele não seja tão novo assim, afinal fazemos parte dele. A questão pode ser mais simples que pensamos. A questão, por ser muito mais simples, talvez possa ter uma certa complexidade no entendimento. Se estamos falando, de fato, de um Sistema Vivo, e sendo integrantes deste Sistema, nossa questão é de Conexão, ou quem sabe “Re-Conexão” com nós próprios, nossos semelhantes e nosso ambiente natural.
Estou falando de um lugar Caórdico por natureza. Estou falando em menos ferramentas (típico dos modelos mecânicos) e muito mais habilidades (típico dos Ecossistemas Orgânicos). O novo modelo ao qual me refiro e que chamo aqui de Ecossistema Orgânico traz em sua essência o que conhecemos por Reino Mineral, Reino Animal, Reino Vegetal, o nosso Reino Humano e todas conexões que se estabelecem.
ECOSSISTEMA ORGÂNICO
Os movimentos que emergem ao redor do Planeta proporcionam ampliar a consciência quanto a nossa interdependência. É importante percebermos que as soluções que sempre adotamos para resolver problemas de um mundo regido por princípios do Sistema Mecânico são completamente diferentes das soluções que podemos nutrir e acolher em um mundo regido por princípios do Sistema Vivo. Agora, enquanto vivemos o período “lockdown” ou “unplugged” como me referi anteriormente, podemos constatar um verdadeiro “Re-Estabelecer” do Sistema Vivo, há um “Re-Equilíbrio”. O que faremos com tudo isso que estamos percebendo? Quanto isso tudo nos afeta? Quais atitudes nos apoiam? Quais habilidades vamos desenvolver? Como vamos sair dessa?
Percebo que já estamos em um momento pós-digital, pós-VUCA e em breve viveremos o pós-COVID. Não há mais espaço para o olhar rígido, hierárquico, escasso e completamente preso em paradigmas sociais, organizacionais e estruturais fundamentados em modelos arcaicos mecânicos.
Estamos migrando para uma nova fase de estruturas sociais e organizacionais, uma nova fase de olhar para recursos, uma nova fase de processos, uma nova fase de relações, uma nova fase de identidade onde honraremos todos aprendizados do passado paradoxalmente apoiados por um incluir, sustentar, anfitriar e nutrir um novo modelo que emerge no Planeta, um modelo que sempre esteve presente e que agora se manifesta em sua máxima intensidade, em sua máxima potência, o modelo dos Sistemas Vivos, o ECOSSISTEMA ORGÂNICO. E nós? Enfim Humanos.