Mais conhecida como Futurismo, a disciplina de Foresight ou Futures Studies tem ganhado espaço nos veículos de comunicação e começa a chamar a atenção. Aqui no Brasil, surgem muitos questionamentos sobre os termos utilizados e os conceitos que começam a se propagar, não raramente de forma imprecisa.
Ao contrário do que muitos acreditam, o objetivo do Futurismo não é fazer previsões ou especular sobre o futuro.
Tampouco os profissionais de futuros são unicamente especialistas em tendências ou novas tecnologias. Há diversas abordagens nas pesquisas de futuros que vão além da extrapolação de tendências ou da projeção de impactos do uso de novas tecnologias.
O Foresight é uma disciplina que investiga futuros alternativos sistematicamente, através de metodologias pragmáticas que requerem conhecimento e treinamento.
Tal disciplina nos conduz a analisar os ciclos de mudança do passado; compreender as forças motrizes que impulsionam as mudanças no presente (considerando não apenas os avanços tecnológicos, mas as esferas social, econômica, ambiental, política); antecipar o futuro provável; imaginar futuros possíveis e planejar ações para a construção do futuro preferido.
Globalmente, o termo Foresight (ou Prospectiva) tem sido preferencialmente utilizado pelos profissionais de futuros, já que a palavra Futurismo está relacionada ao movimento artístico italiano de mesmo nome do início do século XX e suas ideologias não têm nada em comum com os conceitos básicos dos Estudos de Futuros.
Embora os Estudos de Futuros e o Foresight façam uso do mesmo conjunto de métodos e técnicas para investigar futuros alternativos, o Foresight designa especificamente a aplicação dessas metodologias como uma ferramenta para criação de estratégias de ação no presente.
Sendo assim, o Foresight (ou prospectiva estratégica) pode ser considerado Estudos de Futuros aplicados, que vão além do mundo acadêmico, oferecendo recursos para pessoas, organizações e governos para a tomada de decisão e desenho de estratégias de longo prazo.
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O campo dos Estudos de Futuros surgiu como uma construção metodológica em meados da década de 1950, em um cenário de pós-guerra com risco de uma nova guerra nuclear iminente.
Na Europa, os Estudos de Futuros originaram-se paralelamente com o nascimento da ciência de sistemas e com a ideia de planejamento econômico e político nacional, principalmente na França e na União Soviética, que buscavam a reconstrução do país devastado pela guerra. Bertrand de Jouvenel é considerado um dos pais dos Estudos de Futuros.
Por outro lado, nos Estados Unidos, os Estudos de Futuros como disciplina emergiram da aplicação bem-sucedida de ferramentas prospectivas pelo Departamento de Guerra. Entre os futuristas de primeira geração, Herman Kahn, foi um estrategista militar e teórico que ficou conhecido por suas análises sobre as prováveis conseqüências de uma guerra nuclear.
No contexto da época, através da análise de cenários possíveis, uma série de desafios e oportunidades emergentes puderam ser vistos com maior clareza. Nas décadas que seguiram, várias novas organizações e associações de profissionais de futuros foram formadas ao redor do mundo, novos métodos foram desenvolvidos, estudiosos e profissionais compartilharam suas idéias e experiências em uma rica e extensa literatura.
Os maiores desafios que enfrentamos hoje, como humanidade, são heranças de nossos antepassados. São as consequências das decisões humanas do passado. O Foresight pode nos guiar para novas soluções. Nos conduzir pela transição de paradigmas ultrapassados para um novo mundo apoiado em valores mais humanos, inclusivos e sustentáveis.
As lentes da era industrial que usamos para compreender o mundo já se mostraram perigosas e ineficazes. As nossas “antigas” formas de compreender e operar são destrutivas, injustas, excludentes. Precisamos de novas lentes, que nos permitam ver o mundo de forma mais abrangente, sistêmica e inclusiva e pensar de maneira construtiva sobre os futuros emergentes, assumindo nossa responsabilidade com as gerações futuras.