Quando poderíamos imaginar sermos “atingidos” por algo que não ocorre há mais de cem anos? Pois é, estamos vivendo um momento de transformação psicológica, social e econômica de altíssimo impacto.
Carregaremos conosco os reflexos desta pandemia a longo prazo, podendo afirmar que para muitos, este período será marcado por mudanças definitivas.
O isolamento social tornou as pessoas mais vulneráveis, naturalmente fragilizadas, expostas a novos sentimentos, aspirações e até mesmo atribuições que se contrapõem a um turbilhão de questionamentos, incertezas, instalando ansiedade.
Mas como todos estes fatores podem influenciar o consumo? O ser humano converteu-se a alguém cauteloso, inseguro e receoso no quesito “investimento”, seja para comprar uma simples peça de roupa, como para adquirir um bem imobiliário, por exemplo.
Estamos estereotipados por novos comportamentos e um novo pensamento coletivo. A ânsia pela liberdade emergente e procura iminente por autonomia, principalmente no quesito serviços.
O indivíduo estabeleceu atuais parâmetros pessoais, baseados em novas reações, tudo passou a ser inadiável, tornando imprescindível a necessidade em rever o sistema de diversos setores. De uma forma geral, o consumo está passando por muita incerteza, o congelamento de gastos interrompendo a cadeia de diversas indústrias, causando impactos, até mesmo em grandes marcas.
Mas como explicar segmentos favorecidos no meio de tanta turbulência? Eles estão diretamente atrelados a esta “nova” atmosfera, com apelo direto a readequação, trazendo benefícios positivos para a atual circunstância de vida do indivíduo.
E aí está o grande gap para o consumo, despertar antes de tudo uma conexão sentimental e necessária para o consumidor. Assertividade em oferecer benefícios de caráter emocional, proporcionar sensações e acolhimento de fato, já dizia Francesco Morace em sua obra “Consumo Autoral”:
” o consumidor compra produtos ou serviços muito menos por seus atributos funcionais, mais pelas experiências emotivas que permitem ser colocadas em jogo pelo consumidor autor”.
Consumo Autoral” – Francesco Morace
Consumo Digital, Cauteloso e Personalizado
O comportamento de consumo tende a migrar em sua grande totalidade para o universo digital, portanto comprometimento e excelente experiência de compra, será cada vez mais exigido e esperado no âmbito online.
Mas é importante lembrar que o consumidor mudou o conceito de busca, novos anseios surgiram, a tendência do consumo cauteloso, que veio à tona após a recessão econômica, volta a prevalecer.
As marcas terão a responsabilidade de criar diálogos mais atraentes, que envolvam e conquistem rapidamente. E a frente das prioridades a seguir, encontra-se o saber se comunicar individualmente, atender as expectativas e peculiaridades de cada um. O tratamento personalizado precisa acontecer, estamos todos carentes de atenção e orientação.
A internet sempre permitiu a voz coletiva, tratar a diversidade de forma mais justa e isso já havia sido visivelmente percebido no caso da indústria da beleza, conforme citado por Mark Tungate em sua obra “Império da Beleza”.
“A internet também possibilitou que as empresas de produtos de beleza abordassem o problema sensível da etnia: é mais fácil retratar diferentes tipos de pele online do que em campanhas de publicidade tradicionais dispendiosas.”
Império da Beleza– Mark Tungate
O indivíduo enxergou com outros olhares as exclusividades do mundo online e será cada vez mais difícil a reversão, as redes sociais, marketplaces , e-commerces, enfim, se baseiam em estudos e monitoramento comportamental, o que permite sugerir serviços e produtos que supram as necessidades de maneira cada vez mais objetiva e moldada.
Mas de fato, como as mudanças no comportamento do consumidor estão se manifestando?
Busca pelo Conhecimento e Bem-Estar
Através da centralização pela busca por conhecimento, o que se tornou algo prioritário na vida das pessoas durante a pandemia.
Em função do amadurecimento da dependência digital, pessoas ainda não familiarizadas com o mundo virtual, estão se instruindo para conseguirem efetuar compras online sem a dependência de outro alguém. O consumidor está priorizando as compras virtuais, já que deseja suprir suas necessidades sem se expor e correr possíveis riscos. E acima de tudo, obter comodidade e restringir o tempo presencial a tarefas que considera realmente indispensáveis. ]
A atual situação não prevista despertou também o medo de ficar sem reserva financeira, consequentemente incentivou o interesse por informações sobre finanças, aplicações, investimentos. Todos querem entender como aproveitar melhor o seu dinheiro, lucrar e gerar capital.
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Outro fator perceptível, a procura por itens de bem-estar, propiciar um ambiente mais confortável e esmeroso, é natural, já que a maioria das pessoas forçadamente passaram a desenvolver todos os hábitos rotineiros dentro de casa. A aderência por planos de saúde também se inclui, a prevenção, cuidados e “garantia” de um atendimento hospitalar caso necessário, estão diretamente conectados a qualidade de vida.
Ainda fazendo este gancho a saúde, é interessante levantar que o consumo de bicicletas aumentou consideravelmente. Com o fechamento das academias e a necessidade de distanciamento social, as pessoas priorizando pelo contentamento físico e mental, migraram para a prática de esportes outdoor e o afortunado foi o mercado das bikes shops. Além de ser uma atividade física que proporciona a sensação de liberdade, totalmente justificável, já que o isolamento despertou o sentimento de clausura e confinamento.
Reavaliação de Prioridades, Consumo Local e Faça Você Mesmo
Os consumidores estão reavaliando suas prioridades e principalmente a forma como gastam o seu dinheiro. Despertando valores sociais e ambientais, a reutilização de roupas é um exemplo, o interesse por uma moda mais consciente já estava sendo assimilado há algum tempo, mas agora o pensamento por reduzir o consumo de itens não essenciais, acelerou este modismo. E é importante lembrar que está afetando negativamente a indústria do mercado de luxo.
Mais uma consequência, é nítida a aderência por produtos e marcas nacionais, tanto para incentivar e movimentar a economia interna, quanto pelo fato de não estimular a dependência por insumos e matéria-prima vindas do exterior, já que ocorreu um grande bloqueio na exportação por conta da pandemia.
E não podemos deixar de fora o tradicional “faça você mesmo”, com mais tempo em casa, as pessoas descobriram aptidões até tempos atrás não conhecidas, muitos talentos se revelaram. O handmade se enalteceu e amplificou um novo mercado de produtos exclusivos, concebendo uma nova fatia de consumo.
Como disse Carol S. Dweck em sua obra “Mindset: A nova psicologia do sucesso”.
“Quando encontrar uma adversidade, as chances de sua persona se revelar são muito grandes. Não a reprima ou a expulse. Apenas deixe-a se pronunciar”.
Mindset: A nova psicologia do sucesso –Carol S. Dweck, ph. D.
Em resumo, consciência é a atual diretriz, conduzir de forma coerente e justa o sistema produtivo, comercial e financeiro, gerando hábitos de compra mais lúcidos.
O consumo vive seu novo “espírito do tempo”, que promete perdurar por gerações, modificar inúmeros processos industriais, logísticos, econômicos e comportamentais.