Holonomics
O que faz holonomic thinking diferente da forma tradicional de pensarmos modelos mentais se refere ao upgrade em nossa forma de “ver” obtida a partir de uma expansão de consciência. A ideia é passarmos de uma perspectiva meramente analítica, que tradicionalmente utilizamos como certa e legítima, para uma perspectiva intuitiva, na qual não somente entendemos as partes de um sistema, mas, de forma mais profunda, também entendemos as relações e os processos dentro desse sistema.
Conforme demonstrado na figura acima, esse novo estado de consciência considera a importância dos aspectos analítico-lógico-simbólico da mente, mas, ao mesmo tempo, dá valor à intuição, ao sentimento e à sensação como forma de melhor apreender e compreender os sistemas em sua inteireza.
Note que o termo “sentimento” não pode ser confundido com emoção. Se não estivermos presentes (mindful), nossas emoções poderão afetar nossa habilidade de pensar, tornando-nos incapazes de perceber nossos sentimentos e os dos outros. É pelo sentimento que nos conectamos aos outros e com o mundo natural, o que não pode ser alcançado se nos perdermos no “pensar”, habilidade que utilizada separadamente nos desconecta e impossibilita de realmente “conhecer” o mundo à nossa volta.
Note também que não utilizamos a palavra intuição em seu senso comum, que frequentemente é relacionado com sentimento. A forma científica de intuição, a faculdade cognitiva que possibilitou a Einstein ter profundo insight sobre a natureza das estruturas do universo, vai muito além da análise lógica matemática, sendo assim, a fonte do entendimento verdadeiro, do conhecimento que articula linguagem e símbolos, mas que, porém, direciona nossa criatividade e capacidade de inovação.
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Atualmente podemos encontrar algumas organizações de ponta e start-ups que investem no desenvolvimento de mindfulness em seus funcionários, tais como Google, AstraZeneca Pharmaceuticals, Procter & Gamble, eBay, KPMG, Barclays, Deutsche Bank, Apple, Yahoo! e Chaordic. Por quê? Através do upgrade em suas arquiteturas mentais, os funcionários podem melhorar seu desempenho individual e coletivo, sua capacidade de resiliência, a habilidade de resolver problemas e de se adaptar às mudanças.
Suportando os princípios de holonomic thinking podemos citar uma das pesquisas mais inovadoras em neurofisiologia. O cérebro é um órgão que, apesar de ter como propósito fundamental promover a conexão, permanece dividido, e aprofundou sua divisão durante o processo evolutivo. O hemisfério esquerdo provê atenção instrumental, capacitando-nos a manipular os objetos através da atenção apurada aos detalhes.
O hemisfério direito provê o que chamamos de atenção relacional, nos habilitando a ver a figura completa, a criar conexões sociais, a pertencer ao mundo que vemos, ao invés de somente estar no mundo e utilizá-lo de forma desconectada.
Quando prevalecente, a atenção instrumental se manifesta na forma de pensar, por exemplo, de pessoas que acreditam que a única estrutura organizacional eficiente é a hierárquica e baseada na gestão de comando e controle. Isso é fácil de perceber observando-se o uso da linguagem que revela os modelos mentais e o conceito de separação. Por exemplo, pense em uma organização na qual o CEO deseja envolver a todos no processo de comunicação da estratégia e da visão de futuro. Ele começa a reunião dizendo “vocês estão aqui hoje para entender como a organização pretende atingir suas metas de futuro.”
Por outro lado, quando a atenção relacional predomina, as pessoas tendem a usar a linguagem do “nós”. Começam a reunião dizendo “Estamos aqui hoje juntos para entender como nossa empresa pode superar os desafios, de tal que forma que todos poderemos desfrutar de um futuro próspero e brilhante.”
Para que possamos conceber a organização como um “ser” dinâmico e ativo que pode ser percebido quando se torna presente em todo e em cada relação com a organização, com os funcionários, com os produtos, com a marca, etc, precisamos trabalhar com esses dois hemisférios de forma balanceada, ou seja, com holonomic thinking.
Iain McGilchrist, psiquiatra e autor do livro The Master and his Emissary: The Divided Brain and the Making of the Modern World destaca importantes implicações para os negócios. O perigo de não se ter os hemisférios balanceados e, mais ainda, de ter o hemisfério esquerdo com dominante, “reside na tendência de cair no que é estereotipado, em ser guiado por respostas algorítmicas; a crença em teorias à custa da prática; a tendência à conformidade e à mediocridade; aversão a risco que de forma alguma evita o risco, mas que, porém, restringe a originalidade; e uma atitude paranoica e não generosa com o mundo. Energia que poderia estar sendo usada para cooperação é dispendida em conflito. Tornamo-nos obsessivos pelo curto prazo, uma visão estreita sobre metas fáceis (frutos fáceis de serem colhidos) à custa de alcances de longo prazo, uma visão mais abrangente e com resultados que beneficiam a sociedade.”
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