Há alguns meses atrás eu tive a oportunidade de dar uma aula para uma turma multidisciplinar e bastante jovem, com estudantes das mais diversas áreas do meio acadêmico. O tema da minha aula eram os riscos globais e existenciais, um assunto importantíssimo que me deu liberdade para debater com os acadêmicos sobre as atuais e futuras ameaças para a humanidade e para o planeta Terra como um todo. Depois de quase 5 horas de diálogo, pude finalizar a aula com um dos temas que bastante me interessa: a Quarta Revolução Industrial.
A ideia era alertá-los sobre as mudanças que esta revolução industrial causa e causará nas nossas vidas e na forma como nos desenvolveremos como humanidade. Após apresentar um cenário extremamente caótico e diferente para os próximos 50 anos, um dos alunos me olhava com um olhar de quem parecia não acreditar naquilo que eu falava. Os vídeos, documentários, relatórios e artigos científicos publicados em revistas com alto fator de impacto que foram apresentados durante a minha explicação, não pareciam convencê-los da importância do assunto.
Antes de finalizar a aula, ele finalmente comentou: “Professor, na minha opinião, isso não vai mudar muita coisa. Já passamos por outras revoluções industriais no passado, e essa é só mais uma que mudará o nosso mundo, da mesma forma que já mudou há anos atrás”. Eu entendi o seu ponto de vista, mas internamente, lamentei a tamanha misperception e falta de profundidade nos argumentos. Sugeri iniciarmos um amplo debate sobre o assunto e meus argumentos não foram poucos.
A Primeira Revolução Industrial utilizou a água à vapor para poder mecanizar a produção. Na Segunda Revolução Industrial, a energia elétrica permitiu que pudéssemos produzir em massa, por um preço mais baixo. A Terceira Revolução Industrial utilizou da eletrônica e tecnologia da informação para automatizar a produção de uma forma nunca vista antes. Agora, estamos vivendo uma nova transição, indo em direção à uma Quarta Revolução Industrial. Trata-se da fusão de tecnologias para percorrer as esferas físicas, digitais e biológicas. Isso é completamente novo.
As fronteiras da atualidade nunca foram tão curtas. Estamos todos conectados e funcionamos como um grande organismo vivo, como atores e organizações que possuem suas devidas funções. Neste grande organismo, pequenas ações em uma parte do mundo ecoam para todas as outras regiões em questões de minutos. Nós parecemos não conseguir acompanhar este desenvolvimento tão acelerado. Somos bilhões de indivíduos conectados por aparelhos móveis, com um poder absurdo de processamento e armazenamento, possibilitando uma obtenção rápida de informações e conhecimento. Somos criaturas que resolveram criar a inteligência artificial, impressoras 3D, nanotecnologia e biotecnologia para mudar a forma como vivemos. Lembrem-se que isso não existia no começo desse século (pelo menos, não da mesma forma como conhecemos a tecnologia na atualidade).
Estamos falando de transformações pesadas na forma como consumimos, produzimos, armazenamos, transportamos, nos comunicamos e nos relacionamos. A ideia central destas mudanças, foi de melhorar a qualidade de vida e trazer benefícios para as pessoas e empresas, além de trazer conforto e agilidade no dia-a-dia. Ouvir música se tornou mais fácil. Não precisamos sair dos nossos quartos para comprar um novo jogo de videogame. Não precisamos mais ligar para pedir um táxi, basta abrir um aplicativo e solicitar um carro. Quer assistir um filme? Com alguns poucos cliques você encontra uma infinidade de opções à sua espera. Tudo isso, feito remotamente.
Apesar das inúmeras possibilidades que surgem para nos dar melhores condições de vida, ainda assim enfrentaremos grandes desafios. Estamos falando de uma mudança drástica na economia e no emprego. Seremos substituídos lentamente pela tecnologia e pelas máquinas. A mão de obra, força e capital, possivelmente serão substituídas pelo talento e pela inteligência. Os grandes beneficiados dessa transição serão aqueles provedores do capital físico e intelectual, ou seja, os criadores de inovações e investidores. Esse cenário, sem dúvidas, resultará em grandes tensões sociais e mudanças econômicas e políticas.
Enquanto as mudanças acontecem, nossas universidades continuam preparando pessoas para empregos que já não existirão daqui 30 anos. Nossos governos ignoram o avanço tecnológico e acreditam que tudo ficará bem. Nossas empresas brigam ferozmente por espaço e recursos para atrair mais clientes. Já o nosso meio ambiente… bom, o meio ambiente continua a ser explorado como se fosse infinito.
A ideia não é desmotiva-los ou apenas deixá-los preocupados com o futuro. Estamos falando de mudanças incríveis na forma como vivemos. Os consumidores nunca tiveram tanta força e poder como hoje. A comunicação nunca foi tão rápida e a transparência se tornou algo importantíssimo dentro dos negócios. Estamos passando por uma fase de mudanças que nos permitirá criar novas ideias, novos produtos, teorias, formas de viver o mundo. Vivenciar essas mudanças de uma forma mais justa, humana, digna e em harmonia com o meio ambiente, esse sim é o objetivo. Estamos mais fortes, sábios e vivos do que nunca!
E você, o que anda fazendo para mudar o futuro?
Referências:
Fórum Econômico Mundial. The Fourth Industrial Revolution: what it means, how to respond. https://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-fourth-industrial-revolution-what-it-means-and-how-to-respond/
O Relatório de Riscos Globais, 2018. http://www3.weforum.org/docs/WEF_GRR18_Report.pdf
Foto do gráfico: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47654848