Robôs no debate político: Seres humanos gerados por computador e campanhas de desinformação poderão em breve assumir o debate político, alertam especialistas.
Este ano, os bots (diminutivo em inglês de robot, também conhecido como Internet bot ou web robot, é uma aplicação de software concebido para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, da mesma forma como faria um robô) já espalharam reivindicações enganosas on-line sobre o desastre na Austrália. A campanha de desinformação nas mídias sociais argumenta que os incêndios florestais desenfreados foram em grande parte causados por incendiários.
O especialista em análise de redes sociais, Dr. Timothy Graham, analisou 1340 tweets sob a hashtag #arsonemergency no Twitter. Ele encontrou um “número suspeito de contas bot e trolls” usando as hashtags #australiafire e #bushfireaustralia.
“As teorias da conspiração que circulam (incluindo o incêndio criminoso como a principal causa dos incêndios) refletem uma crescente desconfiança em conhecimento científico, ceticismo da mídia e rejeição da autoridade democrática liberal”, disse Grahan ao Guardian. “Esses são todos os principais fatores na luta global contra a desinformação e, com base em minha análise preliminar, parece que a Austrália entrou para o bem ou para o mal nesse campo de batalha, pelo menos por enquanto”.
No ano passado, pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que 70 países tiveram campanhas de desinformação política ao longo de dois anos. Pelo menos um partido político ou entidade governamental em cada país havia se envolvido em manipulação de mídia social. Os pesquisadores concluem que governos e partidos políticos usaram as mídias sociais para espalhar propaganda, “poluem o ecossistema da informação digital e suprimem a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”. Talvez a mais notável dessas campanhas tenha sido a iniciada por um grupo de propaganda russo para influenciar o resultado das eleições nos EUA em 2016.
Mas os robôs vão além e também podem ser usados para influenciar decisões do governo.
A Comissão Federal de Comunicações dos EUA sediou um período em 2017 em que o público poderia comentar sobre seus planos de revogar a neutralidade da rede. Bruce Schneier, professor da Harvard Kennedy School, observa que, embora a agência tenha recebido 22 milhões de comentários, muitos deles foram feitos por identidades falsas. Mais de 1 milhão de comentários foram criados usando o mesmo modelo, com algumas palavras alteradas. Schneier argumenta que a crescente prevalência de personas geradas por computador poderia “matar” a democracia, e afirma:
“Em breve, os robôs orientados pela Inteligência Artificial poderão escrever cartas personalizadas para jornais e autoridades eleitas, enviar comentários individuais para processos públicos de elaboração de regras e debater de forma inteligente questões políticas nas mídias sociais. Eles poderão comentar em postagens de mídia social, sites de notícias e outros lugares, criando personalidades persistentes que parecem reais até mesmo para alguém que as examina. Eles poderão se apresentar como indivíduos nas mídias sociais e enviar textos personalizados. Eles serão replicados na casa dos milhões e se envolverão nas questões o tempo todo, enviando bilhões de mensagens, longas e curtas. Juntando tudo isso, eles poderão abafar qualquer debate real na internet. Não apenas nas mídias
Ele sugere que métodos de autenticação melhores sejam desenvolvidos e padronizados e espera que nossa capacidade de identificar pessoas artificiais acompanhe nossa capacidade de disfarçá-las.
“No final, qualquer solução precisa ser não-técnica. Temos que reconhecer as limitações da conversa política on-line e priorizar novamente as interações cara a cara … Essa seria uma mudança cultural da Internet e do texto, afastando-se das mídias sociais e dos comentários. Hoje isso parece uma solução completamente irrealista. ”