Hackeando o processo de aprendizagem: como aprender mais e melhor num mundo cheio de pressa e distrações

Você estudou por mais de 15 anos e talvez nunca tenha aprendido “como aprender” de verdade. A escola nos ensina a passar em provas mas não ensina o mais importante: como realmente absorver novas informações de forma eficiente.

Conseguir aprender rápido e com qualidade é uma das maiores vantagens competitivas atualmente.

Desde criança uma coisa sempre confundiu minha cabeça: por um lado, sempre achei escola e faculdade muito chatas, mas por outro, sempre fui muito curioso e gostei de aprender muitas coisas diferentes: marketing digital, tecnologia, psicologia, programação, milhas, filosofia, malabarismo, persuasão, mágica…. e muitos outros assuntos (essa lista bizarra é verdadeira).

E refletindo sobre essa situação estranha, percebi que eu amava aprender, mas que nunca havia de fato aprendido “como aprender”. Porque a escola e faculdade não são lugares que na prática realmente se preocupam com isso.

Até então era mais sorte e curiosidade do que método. Ao entender que eu gostava de absorver informações e conseguia fazer bem, acabei me dedicando muito a esse assunto nos últimos 4 anos para de fato “aprender a aprender”.

Este post é o meu compilado de aprendizados sobre o tema, e o escrevi com dois objetivos:

  1. Organizar minha cabeça: Organizar todo o aprendizado, ideias, conteúdos e práticas que tive no tema nos últimos anos em um guia claro, simples e direto. Um guia que eu mesmo possa consultar e revisar constantemente.
  2. Ajudar outras pessoas: A partir disso, quem sabe ajudar pessoas ambiciosas e sedentas por aprendizado mas que ainda não tem um método claro para isso. Como comento abaixo, “aprender como aprender” pode impactar diretamente a carreira das pessoas.

Aviso 1: Não sou especialista no assunto, mas me apoiei em vários deles para construir o texto. Todas as referências estão no final do artigo e toda contribuição e questionamento nos comentários são super bem-vindos.

Aviso 2: O artigo é longo porque ele de fato tenta dar todo o contexto necessário para uma compreensão mais que superficial do assunto. Não tenha pressa para ler e leia mais de uma vez.

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Sumário:

  1. O grande paradoxo que vivemos
  2. Aprendizado como um diferencial competitivo na sua carreira
  3. Os desafios do aprendizado
  4. Os aspectos fisiológicos e cognitivos do aprendizado
  5. O método: os 4 passos fundamentais para aprender rápido e com qualidade
  6. Cruzando o Vale da Morte
  7. Como superar a ansiedade e vontade de querer aprender tudo
  8. Recursos importantes
  9. Referências

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COMO APRENDER DE VERDADE?

O grande paradoxo que vivemos

Vivemos em um grande paradoxo atualmente. Por um lado, estamos no melhor momento da humanidade para quem quer aprender. Enquanto historicamente o conhecimento sempre foi algo elitizado, hoje ele é democratizado.

É possível aprender praticamente sobre tudo, sozinho, sem sair de casa e de graça. Coursera, edX e várias outras iniciativas de educação disponibilizam gratuitamente disciplinas completas das melhores universidades do mundo (Harvard, Stanford, MIT, Unicamp, USP e muitas outras). No Youtube também é possível aprender sobre tudo: consertar lâmpadas, geladeira, ventiladores, etc.

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Ao mesmo tempo que estamos no auge da evolução do acesso a informação e na melhor época da humanidade para aprender, também estamos no auge das distrações. Nossa capacidade de foco e concentração estão cada vez mais debilitadas.

É possível aprender praticamente sobre tudo, sozinho, sem sair de casa e de graça.

Nem preciso me aprofundar muito na explicação disso porque todo mundo vive várias vezes ao dia esse problema. Inclusive, se está lendo esse texto no celular, provavelmente será interrompido algumas vezes (se já não foi!).

Concentração e capacidade de aprendizado: as duas habilidades mais importantes na nova economia

O primeiro e um dos melhores livros que eu li em 2019 foi o Deep Work, do Cal Newport. Ele mostra como grandes feitos da humanidade foram feitos por pessoas que conseguiam entrar em momentos de altíssima concentração e livres de distração para poder dar profundidade nos seus trabalhos e levá-los para um outro nível.

Além disso, ele reforça que nessa economia atual, onde tudo muda muito rapidamente, é mais importante saber aprender para se adaptar rápido do que saber com profundidade uma técnica X ou Y que tende a ficar obsoleta rapidamente.

Portanto, de acordo com ele, as duas habilidades mais importantes para prosperar são 1) conseguir aprender coisas difíceis rapidamente e 2) conseguir focar para ter um alto nível de produtividade.

Aprendizado como um diferencial competitivo na sua carreira

Além disso, ser capaz de aprender assuntos diferentes rapidamente pode criar um diferencial competitivo na carreira muito interessante.

Primeiro porque atualmente temos muitas profissões que simplesmente não existiam há 5 anos. São posições disputadas e muito valorizadas exatamente porque poucas pessoas conseguem desempenhar bem. As pessoas que conseguem aprender e se adaptar mais rapidamente ocupam essas posições.

Segundo, que ao criar uma combinação atípica de duas ou mais habilidades que você seja apenas bom pode te tornar um profissional único e muito mais valorizado.

Quem fala muito bem disso é o Scott Adams, autor do quadrinho Dilbert:

“Todos têm pelo menos algumas áreas nas quais podem estar entre os 25% melhores com algum esforço. No meu caso, posso desenhar melhor que a maioria das pessoas, mas dificilmente sou um artista. E eu não sou mais engraçado do que um comediante médio, mas eu sou mais engraçado do que a maioria das pessoas. A mágica é que poucas pessoas podem desenhar bem e escrever piadas. É a combinação dos dois que torna o que eu faço tão raro. E quando você acrescenta meu histórico de negócios, de repente tive um tópico que poucos cartunistas poderiam esperar entender sem vivê-lo. O capitalismo recompensa coisas que são raras e valiosas. Você se torna raro, combinando duas ou mais habilidades até que ninguém mais tenha esse mix.” Scott Adams

Foi essa lógica que eu acabei seguindo na minha carreira. Consegui aprender bem e rápido assuntos bem diferentes através das minhas experiências de trabalho e interesse pessoal e consegui criar uma combinação de conhecimentos pouco usual.

Portanto, saber e conseguir aprender assuntos bem diferentes também pode te ajudar a acelerar sua carreira.

Os desafios do aprendizado

Apesar de ser algo tão importante, aprender não é fácil — enfrentamos muitos desafios neste processo de aprendizagem. Conhecer estes desafios é o primeiro passo para conseguir superá-los.

Na minha opinião, os principais desafios para aprender são:


Desafio 1: A escola não ensina a aprender

Não é mistério para ninguém que o modelo de ensino tradicional não funciona mais. O modelo de escola que temos hoje é extremamente antigo e nasceu no contexto da revolução industrial, onde era necessário formar mão de obra padronizada e capaz de operacionalizar a indústria.

O mundo mudou completamente, mas as escolas continuam seguindo o mesmo modelo de séculos atrás. A escola ensina principalmente a fazer provas, mas não ensina o mais importante: como aprender assuntos diferentes, de forma eficiente e se preparar para os desafios do mundo.

Uma pessoa passa de 10 a 20 anos estudando e aprendendo a copiar, decorar, colar, etc. E a verdade é que muito pouco desse conhecimento vai fazer diferença realmente no futuro dessa pessoa.

O Murilo Gun tem um vídeo curtinho em um TED Talk muito bom sobre isso: sobre como a escola é um modelo ultrapassado e como ela mata a criatividade.

Desafio 2: O ser humano esquece muito rápido

Em 1885, o psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus criou a “curva do esquecimento” a partir de alguns experimentos, onde ele mostra quanto esquecemos da informação ao longo do tempo caso não haja esforço direto de mantê-la.

A conclusão é que o ser humano esquece as coisas muito rapidamente, a não ser que tenha um esforço deliberado de lembrar. Estudos complementares sugerem que humanos de um modo em geral chegam a esquecer 50% da nova informação absorvida dentro da primeira hora, e 70% nas primeiras 24 horas.

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É óbvio que esta curva não é idêntica para todas as pessoas. É uma abstração que mostra uma média geral de como a gente acaba esquecendo as coisas caso não tenhamos um esforço direto e deliberado de continuar lembrando daquilo.

De forma bem resumida: o ser humano tem uma incapacidade natural de reter informações, a não ser que se dedique diretamente a isso.

Outros fatores acabam fazendo muita diferença nessa curva como: diferenças individuais, conhecimento prévio do assunto, importância e forma do aprendizado.

Desafio 3: O adulto aprende diferente

Este é um dos pontos mais importantes e que, surpreendentemente, muitas pessoas nem sabem da existência. Devido a fatores fisiológicos e contextuais (rotina, desafios do dia a dia, motivação, etc), o adulto não aprende da mesma forma que crianças. E é por isso que não adianta simplesmente repetir o método que foi usado a vida inteira na escola para aprender as coisas quando adulto.

Existe uma ciência dedicada a isso, a Andragogia. Esse termo foi cunhado na década de 1970 por Malcolm Knowles. O termo remete para o conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças.

A Andragogia surge para fazer frente à complexidade educativa demandada pelo adulto, que ao contrário da pedagogia, não levam tanto em conta as vivências, interesses e expectativas do aluno.

A Andragogia tem algumas premissas para o aprendizado de adultos:

  1. Adultos precisam saber porque estão aprendendo algo
  2. Adultos precisam aprender de forma prática, experimental
  3. Adultos encaram o aprendizado como resolução de problemas
  4. Adultos aprendem melhor quando o assunto traz valor imediato
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Portanto, se o adulto aprende diferente, é necessário entender essas diferenças para maximizar o aprendizado.

Por isso, estratégias como estudos de casos, simulações e auto-avaliações são muito mais úteis e eficazes que apenas a leitura de um livro ou artigo, por exemplo.

Em termos práticos, isso significa que a instrução para o adulto deve ser muito maior no processo do aprendizado do que no conteúdo em si. O adulto aprende, principalmente, com a experiência prática — “on-the-job learning”. Por isso, estratégias como estudos de casos, simulações e auto-avaliações são muito mais úteis e eficazes que apenas a leitura de um livro ou artigo, por exemplo.

Desafio 4: O mundo está cheio de informações e distrações

Esse é o tópico que menos precisa de explicações e justificativas porque vivemos isso na prática.

Tivemos uma explosão de avanços tecnológicos e de informação nos últimos 10 anos e ainda estamos aprendendo a lidar com isso. Inclusive ainda nem sabemos o efeito de longo prazo de tudo isso.

Um volume de informações e distrações tão grande impacta diretamente nossa capacidade de concentração e foco, que dificulta muito no aprendizado.

Mas não se sinta tão culpado — tanta distração não acontece à toa. Boa parte das mentes mais brilhantes do mundo trabalham em empresas como Google, Facebook, Apple, Amazon, Netflix, etc cujos negócios dependem totalmente da sua atenção.

O trabalho dessas pessoas é fazer de tudo para conseguir chamar sua atenção e fazer com que você gaste mais tempo em seus aplicativos, plataformas, celulares, etc. Tudo é milimetricamente construído e testado exaustivamente para te viciar ao máximo.

A cada dia aparecem mais estudos mostrando o impacto das distrações no aprendizado de crianças e adolescentes, sem contar o impacto em produtividade no ambiente de trabalho.

Desafio 5: O Vale da Morte do aprendizado

Eu não sei se todas as pessoas passam por isso, mas esse é um desafio grande para mim e também é algo muito recorrente com muitos amigos. É um conceito simples de entender mas bem difícil de superar.

Pense em algo que você quis aprender ou aprendeu e veja se esta história é familiar:

  • Você escolhe um assunto novo para aprender (seja xadrez, violão, jiu-jitsu, alemão ou qualquer outra coisa).
  • Você começa todo empolgado. Logo que começa, tudo é novidade, então sua motivação está lá em cima. Todo pequeno aprendizado te gera uma grande sensação de evolução. E isso só te motiva mais, afinal, você é uma máquina de aprendizado. Você continua firme e forte.
  • Em algum momento, você começa a perceber que a frequência de sensações de evolução vem diminuindo. Enquanto antes todo dia você sentia que estava evoluindo, agora depois de uma semana parece que não evoluiu tanto — às vezes nada.
  • Você persevera, até consegue ter uns momentos de satisfação de vez em quando, mas fica cada vez mais difícil perceber evolução. E aí a motivação começa a diminuir. Você começa a pensar que aquilo ali não é para você.
  • Como a motivação diminui, a prática também diminui de intensidade. Como você se dedica menos, a sensação de progresso que já era pequena, diminui mais. E aí você entra em um ciclo vicioso, até que pensa: “isso não é para mim”. E desiste.

Isso é o que eu chamo de Vale da Morte. É a região onde sua motivação diminui por não sentir tanto avanço a ponto que te faz desistir de aprender um novo assunto. Quantas vezes isso já aconteceu com você?

Isso é o que eu chamo de Vale da Morte. É a região onde sua motivação diminui por não sentir tanto avanço a ponto que te faz desistir de aprender um novo assunto.

A questão é que quando conseguimos ser resilientes, perseverar e passar por esse período ingrato, você volta a ter a sensação de progresso e se tornar melhor no tema. Suas perspectivas melhoram, a motivação volta a subir e volta a entrar em um ciclo virtuoso.

Um dos grandes desafios do aprendizado é vencer esse período ingrato de baixa sensação de progresso e motivação.

Desafio 6: A ansiedade de querer aprender tudo

Quantos livros você já comprou e não leu? Quantos artigos e podcasts você tem na sua lista? Quantos cursos você já comprou (eu sou viciado em comprar cursos da Udemy)?

Para mim, mais difícil que lidar com as distrações, é lidar com a ansiedade de querer aprender muitas coisas. Sempre estou com a sensação de que “estou devendo” e que estou “para trás”, mesmo sabendo que estudo e aprendo mais que a média das pessoas.

O problema dessa ansiedade é que ela te pressiona a começar a estudar outros assuntos diferentes, mas isso geralmente significa abandonar o tópico anterior para se dedicar a um novo.

Para mim, mais difícil que lidar com as distrações, é lidar com a ansiedade de querer aprender muitas coisas. Sempre estou com a sensação de que “estou devendo” e que estou “para trás”.

Novamente entramos num ciclo vicioso. Com mais assuntos começados e não terminados, a sensação de “estar devendo” e a ansiedade para aprender só aumentam.

Para conseguir aprender de verdade é preciso paz de espírito para dar foco no assunto que realmente você deseja ser muito melhor. No fim do artigo eu mostro o método que eu desenvolvi para quebrar esse ciclo vicioso: o Kanban do Aprendizado.

Os aspectos fisiológicos e cognitivos do aprendizado

Método, força de vontade e disciplina não são tudo para aprender. Como o aprendizado é um processo fisiológico/neurológico (coisas precisam acontecer no seu corpo para gerar memórias), é muito importante entender minimamente como o funcionamento do nosso corpo interfere nesse processo.

O seu corpo deve estar funcionando bem para poder otimizar isso. Qualquer deficiência pode comprometer ou no mínimo dificultar sua capacidade de aprendizado.

O que é a memória e como ela funciona

Vamos começar entendendo o básico — apesar de que a memória ainda é algo muito complexo e ainda não temos uma explicação exata de como tudo funciona.

Quando falamos de memória, falamos do processo que usamos para adquirir, guardar, manter e posteriormente resgatar informações do nosso cérebro.

Para formar novas memórias, informações precisam ser transformadas em algo útil e compreensível. Uma vez que essa informação é transformada com sucesso, ela deve ser guardada para ser usada posteriormente. Muito dessa memória fica fora da nossa percepção, até o momento que precisamos usar isso. O processo de resgate permite trazer essa memória guardada para o lado consciente.

A habilidade de acessar e resgatar informações de memórias de longo prazo nos permite usar essas memórias para tomar decisões e resolver problemas. Para facilitar o aprendizado, precisamos aprender a guardar e resgatar essa informação da forma mais eficiente possível. É por isso que existem muitas técnicas de aprendizado que ajudam nesse processo. Para adultos, por exemplo, uma das formas mais eficientes de praticar o resgate das informações é através de “quizzes” sobre o assunto.

Nossa tendência natural de distração

Outro conceito importante de entender é a tendência natural de distração do ser humano. Para o cérebro humano, qualquer distração significa novidade, e tudo que é novidade está associado com aumento dos níveis de dopamina (neurotransmissor associado com prazer e recompensas).

Isso significa que somos biologicamente predispostos a distração — seja por um padrão neurológico para nos manter alerta (e em segurança contra ameaças externas) ou por um mecanismo de defesa psicológico para evitar que a gente se sinta solitário.

Portanto, você não deve simplemeste aceitar as distrações, mas pode se sentir um pouco menos culpado. 😛

Nutrição: alimentação, vitaminas e minerais essenciais

Como já comentei, força de vontade e disciplina não são suficientes. As vitaminas e minerais tem participação em tudo que acontece no seu corpo, inclusive nas capacidades cognitivas, formação de memórias e consequentemente no aprendizado.

Se você tem deficiência de algum nutriente essencial, seu corpo pode não funcionar da melhor maneira e isso pode comprometer o seu aprendizado. Muitos estudos tem mostrado, por exemplo, que pessoas com deficiência de vitaminas do complexo B tem sua capacidade de aprendizado reduzida, tem menos energia durante o dia e estão mais suscetíveis a distrações.

Como também não sou especialista aqui e cada pessoa tem as suas características e deficiências, a minha recomendação é que faça um acompanhamento constante com um médico. Assim você equilibra a sua alimentação e tratamentos de acordo com o que você mais precisa.

Se você tem deficiência de algum nutriente essencial, seu corpo pode não funcionar da melhor maneira e isso pode comprometer o seu aprendizado.

Desde o início de 2019 eu tenho feito acompanhamento mensal com nutrólogo e nutricionista para ganho de performance cognitiva. Faço exames a cada 2 meses e partir dos resultados e dos meus objetivos, é construído o meu plano de alimentação, suplementação e atividade física. Além de ter melhorado muito minha alimentação e perdido vários quilos de gordura, a saúde, disposição e foco aumentaram muito. Obrigado Dr. Thiago Volpi! No Instagram dele tem várias dicas sobre o tema (@drthiagovolpi).

A minha surpresa: o papel e a falta de Vitamina D

Algo que aprendi esse ano durante o meu acompanhamento médico foi a importância da vitamina D. Ela sempre esteve associada a formação dos ossos no corpo, mas possui uma função importantíssima muito além dessa.

A falta de vitamina D, portanto, tem sido associada diretamente com a redução das capacidades cognitivas.

Ao contrário de outras vitaminas, a vitamina D funciona como um hormônio, e toda célula do corpo tem um receptor para ela. No cérebro, ela desempenha a função de síntese de neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação entre o cérebro e o resto do nosso corpo.

A falta de vitamina D, portanto, tem sido associada diretamente com a redução das capacidades cognitivas.

Para piorar, a falta de vitamina D é muito comum. Se estima que 1 bilhão de pessoas no mundo tem níveis abaixo do recomendado. E por ter sintomas muito sutis e não específicos como aumento de cansaço e redução da capacidade cognitiva, não costumamos estar atentos a isso e associar diretamente.

Portanto, cuide da sua saúde e peça seu médico para acompanhar seus níveis de vitamina D pois é bem provável que esteja abaixo do recomendado e consequentemente afete a sua capacidade de aprendizado.

Atividades físicas

Os benefícios da atividade física vão além da saúde e bem-estar do corpo. Além de fortalecer os sistemas cardiovascular e muscular e reduzir o risco de muitas doenças, muitas pesquisas atualmente sugerem que a atividade física também afeta positivamente o cérebro e melhora a cognição, o humor, a atenção e o desempenho acadêmico de estudantes.

Dr. John J. Ratey, professor de Harvard, escreveu um livro chamado Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain. O livro mostra a conexão entre exercícios físicos e o cérebro, trazendo fortes evidências de que exercícios aeróbicos ajudam o cérebro a conseguir máximo desempenho em todas as frentes.

De acordo com ele, atividade física contribui para o aprendizado em 3 frentes:

  1. Aumenta atenção e motivação
  2. Prepara e incentiva as células nervosas a se conectarem umas às outras, que é a base para registrar novas informações
  3. Estimula o desenvolvimento de novas células nervosas a partir de células-tronco no hipocampo

Resumindo: atividade física não só ajuda o cérebro a se preparar para aprender, como também facilita a retenção de informações.

Inclusive, um estudo feito na Holanda, mostrou que inserir 20 minutos de atividade física aeróbica entre aulas aumentou o nível de atenção das crianças que participaram do experimento.

A importância do sono no processo de aprendizado

Este tópico é tão importante e interessante que até mereceria um artigo só para ele. Uma das melhores fontes sobre o tema é o Dr. Matthew Walker, professor de UC Berkeley, autor do livro Why We Sleep. O livro é muito bom e chega a ser assustador a importância de se dormir bem. Inclusive foi indicado na lista de livros do Bill Gates.

O autor estudou por 20 anos o impacto do sono em muitos aspectos das nossas vidas. Sem o sono adequado, humor, concentração e desempenho mental começam a sofrer bastante. Além disso, a falta de sono tem se mostrado muito relacionado com problemas de saúde como hipertensão, obesidade, diabetes, disfunção erétil e outros.

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E o resumo da história é: uma boa noite de sono é extremamente poderosa. A quantidade e qualidade do sono tem um impacto profundo na capacidade de aprendizado e memória (e em muitos outros aspectos da nossa saúde). 

Dormir bem impacta aprendizado de duas maneiras:

Primeiro, uma pessoa sem sono e descanso adequados tem sua atenção e capacidade de absorver novas informações prejudicadas. Portanto, dormir bem antes de aprender facilita absorção da informação e ajuda a preparar o cérebro para criar novas memórias. Além disso, neurônios podem falhar em coordenar o fluxo de informações, e com isso perdemos a habilidade de acessar informações já aprendidas.

Dormir bem antes de aprender facilita absorção da informação e ajuda a preparar o cérebro para criar novas memórias.

Segundo, o sono tem um papel de consolidar memórias, etapa fundamental no processo de aprendizagem. Pesquisas sugerem que a consolidação da memória acontece durante o sono através do fortalecimento das conexões neurais que formam nossas memórias.

Abaixo um vídeo com uma palestra do Dr. Matthew Walker que resume as ideias principais do livro:

Cochilos como esteróides para o aprendizado

Cochilos durante o dia não substituem uma boa noite de sono. Porém, de acordo com a Dra. Sara Mednick da Universidade da Califórnia em San Diego, podem ser bem complementares e bem poderosos para o aprendizado. Ela estuda o tema e coleta dados há mais de uma década e mostra que cochilos podem aumentar muito o aprendizado, memória, atenção, criatividade e produtividade.

No livro dela, Take a Nap!, ela mostra como tirar cochilos de forma mais otimizada e produtiva possível, trazendo técnicas depois de uma década de pesquisas sobre o tema.

Como o estado emocional influencia o aprendizado

Outro aspecto que influencia muito a nossa capacidade de aprendizado é como estamos nos sentindo no momento. A forma como uma pessoa processa, codifica e guarda informações pode variar muito de acordo com seu estado emocional.

Explicando de forma simplista e resumida porque isso acontece (lembrando que esta não é minha especialidade): As emoções são originadas no cérebro, mais especificamente no sistema límbico. Já a maior parte dos nossos pensamentos e aprendizados acontecem no córtex.

O sistema límbico é o responsável por levar as informações e nossas percepções para o córtex para serem processadas por lá. Este sistema então acaba sendo o mediador entre pensamentos e sentimentos. Por isso as emoções acabam interferindo muito no processo processo de tomada de decisões, de racionalização e aprendizado.

Se o sistema límbico interpreta as informações como positivas, ele envia uma mensagem de entusiasmo e o pensamento e a aprendizagem são aprimorados. Quando a interpretação é negativa, o pensamento e o aprendizado ficam prejudicados.

Se o sistema límbico interpreta as informações como positivas, ele envia uma mensagem de entusiasmo e o pensamento e a aprendizagem são aprimorados.

Além disso, o stress e ansiedade também tem um efeito muito ruim no processo de aprendizagem. Sob alto nível de stress, a ativação do hipocampo diminui e afeta a sua habilidade de codificar informações e memória espacial.

Estudos mostram que o estado emocional ideal para aprendizado é aquele onde você tem um alto nível de atenção, mas sem os impactos negativos do stress ou ansiedade.

Entender o porquê isso acontece conosco é importante pois constantemente nos encontramos em situações de stress, ansiedade ou frustração — especialmente em situações de prova, testes e avaliações.

Nestes casos, por mais contra-intuitivo que pareça, o mais recomendado é tentar fazer uma pausa, relaxar e entrar num estado de atenção sem muito stress. Assim seu nível de absorção aumenta consideravelmente.

Uma vez que se entende as principais coisas que interferem diretamente no aprendizado, é hora de se discutir o método em si para aprender rapidamente e com qualidade.

O método: os 4 passos fundamentais para aprender rápido e com qualidade

Existem inúmeros métodos, técnicas, livros e artigos sobre o tema, mas depois de consumir muitos conteúdos sobre o tema, é possível perceber que algumas coisas que se repetem e são quase consenso entre eles.

Eu resumi o que considero mais essencial e consensual em 4 grandes passos. Existem muitas microtécnicas que podem ajudar no caminho, mas os fundamentos são esses. Se preocupe em aprender e executar os passos abaixo com qualidade.

Passo 1: Se preocupe em aprender bem os fundamentos

Uma vez definido o tema que você quer aprender, o primeiro passo é se preocupar em aprender muito bem os fundamentos desse tema.

Temos uma tendência natural de querer aprender o que tem de mais moderno e sofisticado no assunto — afinal, estamos super empolgados. O problema disso é que se focar em aprender principalmente “o que está na moda”, significa que em breve aquele conhecimento estará desatualizado. Os fundamentos resistem ao tempo, enquanto as táticas mais modernas não.

Essa premissa é muito importante e uma das bases do aprendizado do Elon Musk. O texto How Elon Musk Learns Faster And Better Than Everyone Else fala exatamente isso, e mostra como ele usa este princípio para aprender rápido e com muita profundidade os assuntos que se dedica.

“É importante ver o conhecimento como uma espécie de árvore semântica — certifique-se de entender os princípios fundamentais, isto é, o tronco e os galhos grandes, antes de entrar nas folhas/detalhes.” Elon Musk

E isso serve para praticamente qualquer assunto.

Exemplo: Marketing Digital

Por trabalhar com Marketing Digital há alguns anos, acabo vivenciando uma situação que serve de ótimo exemplo aqui. Vejo muitas pessoas estudando e começando a ingressar como profissional de marketing digital.

Uma das primeiras coisas que as pessoas querem aprender, por exemplo, é como virar o ninja do Google e Facebook Ads e fazer anúncios e segmentações mais modernas e eficientes. Porém, isso é apenas a tática mais moderna. E focar em aprender isso é perigoso, especialmente porque estas plataformas mudam o tempo inteiro.

A essência do Marketing em si já tem décadas e praticamente não muda. Identificar o seu público, entender as dores dele e contar uma boa história são alguns fundamentos muito importantes. Não adianta querer ser um bom profissional de marketing digital sem entender como fazer isso bem primeiro. 

Entender muito bem isso vai te ajudar no futuro a criar anúncios e segmentações muito melhores.

Ainda em marketing, se fala muito atualmente sobre copywriting em anúncios — técnicas de escrita para tornar os anúncios mais persuasivos. Mas os fundamentos da persuasão são bem antigos, com décadas e décadas de existência. Robert Cialdini destacou os principais fundamentos nos anos 70 quando escreveu o livro Influence por exemplo (obrigatório para qualquer profissional de marketing e vendas). Portanto, antes de fazer o último curso lançado sobre Copywriting para anúncios, vá ler e estudar bem os fundamentos discutidos nos anos 70.

Descobrindo os fundamentos através de engenharia reversa

A melhor forma de descobrir os fundamentos é fazendo a “engenharia reversa” do tema. Abaixo é possível ver um TED Talk sobre como aprender qualquer coisa em 20 horas. A essência é exatamente esta: fazer engenharia reversa para descobrir quais os fundamentos e focar em aprender muito bem estes fundamentos. Com isso já te permite fazer muitas coisas e avançar no aprendizado muito rápido.

Veja o vídeo até o final e perceba como os fundamentos que ele aprendeu com o Ukelele permitiram que ele tocasse várias músicas.

Passo 2: Pratique de forma deliberada (o mais importante!!)

Sem sombra de dúvidas este é o passo mais importante e o de maior consenso entre todos os materiais sobre aprendizado que eu já estudei.

A ‘prática deliberada‘ é um tipo de prática sistematizada e com propósito claro. Enquanto a prática regular (que estamos acostumados e que aprendemos ao longo da vida) consiste em repetições quase que automáticas, a prática deliberada requer uma atenção grande em um ponto específico e tem o objetivo claro de evoluir muito o desempenho daquilo.

Quanto mais automático seu desempenho tem se tornado, menos você está aprendendo.

Na prática, como “praticar de forma deliberada”?

1. Defina o que quer aprender e divida o assunto em pequenos pedaços

Pegue o assunto que você escolheu aprender e quebre em pedaços menores. Feito isso, foque em aprender pedaço por pedaço e depois junte tudo. Esse passo é super importante pois sua atenção precisa estar concentrada em algo bem específico que você quer aprender. Isso ajuda a reduzir a ansiedade de querer aprender tudo e também ajuda a desenvolver com profundidade naquele aspecto.

2. Receba feedbacks constantes (da pessoa certa!)

Talvez a maior diferença entre a prática deliberada da simples repetição seja o feedback. Qualquer pessoa que tenha se aperfeiçoado em aprender dessa forma, desenvolveu métodos de receber feedbacks constantemente sobre seu desempenho. O feedback é fundamental pois só com ele você vai saber os pontos mais importantes e que merecem atenção total.

Para ajudar nesse processo de feedback e foco no lugar correto, é fundamental ter bons mentores. Os mentores certos sabem onde você deve focar sua atenção e como te desafiar. Eles te proporcionam feedback imediato e realista sobre o seu trabalho, para que você possa melhorar mais rapidamente. Escolha o mentor que entende seus objetivos e melhor se adapta às suas necessidades. Além de tudo isso, um mentor ainda ajuda a destravar em etapas importantes (isso ajuda muito na motivação).

3. Descanse de verdade

Como a prática deliberada requer sua atenção total, com o máximo de esforço físico e mental, isso só pode ser sustentado de forma saudável por um determinado período de tempo. Por isso se torna tão fundamental descansar de verdade. E isso tem muito a ver com o que já foi discutido na importância do sono em todo esse processo. É importante compensar o intenso esforço da prática deliberada com qualquer tipo de atividade de lazer ou relaxamento. Isso vai ajudar a evitar a fadiga mental ou física.

4. Repita o processo

Por fim, depois de descansar, precisamos continuar e repetir o processo. Repetir o processo é importante porque somos mais capazes de recordar informações e conceitos se os aprendermos em várias sessões dispersas. É nisso que consiste a técnica de ‘Repetição Espaçada‘ para aprender lentamente quase tudo.

A repetição espaçada pode não ter o efeito imediato de se tentar aprender tudo de uma só vez como um maníaco, mas é muito mais eficiente no longo prazo. As informações que aprendemos dessa forma podem durar uma vida e tendem a ser efetivamente retidas. A técnica da repetição espaçada é uma das melhores formas de superar a curva de esquecimento de Ebbinghaus (explicada no início do texto como um dos desafios do aprendizado).

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Minha recomendação sobre esse tema de “Prática Deliberada” é o livro Peak, do Anders Ericsson.

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Passo 3: Relacione-se e aprenda com as melhores pessoas possíveis no assunto

Esse passo não é tão determinante quanto o passo 2, mas certamente é o maior atalho que você pode vir a pegar em todo esse processo de aprendizado e pode te economizar anos de esforço. E mesmo sendo tão poderoso, é o passo que a maioria das pessoas ignora ou simplesmente não dão a importância merecida.

Pessoas experientes no assunto são o maior atalho para aprendizado porque você aproveita o conhecimento de anos extremamente destilado. Além disso, os maiores aprendizados e “pulos do gato” não costumam estar escritos em lugar nenhum.

Quando quero aprender algo novo, o meu primeiro passo é conversar com alguém muito bom no assunto e já tentar descobrir a resposta para algumas perguntas:

  1. Quais os conceitos mais fundamentais do assunto? (passo 1 do nosso processo)
  2. Quais os melhores conteúdos sobre o tema? (foco meu tempo e esforço apenas nos conteúdos mais relevantes)
  3. Quais os erros mais comuns a serem evitados? (me ajuda a não desperdiçar tempo que normalmente os iniciantes desperdiçam)
  4. Quais os principais aprendizados práticos que você teve sobre o assunto? (anos de aprendizado resumido em algumas frases)
  5. Quem devo seguir sobre o tema? (me ajuda a concentrar meu tempo apenas nas pessoas ais relevantes sobre o tema)

Ter estas perguntas respondidas antes de começar ajuda muito no processo, evita muito desperdício de tempo e ajuda a manter o foco realmente nas coisas mais importantes.

Mastermind — levando os relacionamentos e aprendizado para outro nível

Uma forma de levar para outro nível relacionamentos e consequentemente aprender mais com isso é formando ou participando de grupos de mastermind. A ideia do mastermind é juntar em pequenos grupos pessoas com uma mesma característica ou que tenham desafios em comum.

Esse grupo se encontra com regularidade para discutir os desafios, fortalecer conexões e compartilhar experiências e aprendizados. O grande objetivo é fortalecer o relacionamento entre os participantes do grupo e fazer com que o grupo aprenda e prospere juntos.

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Passo 4: Ensine os outros da forma mais simples possível

O último passo vem para consolidar as informações da forma mais definitiva na sua cabeça.

Aprender não é apenas sobre absorver informações — este é apenas o primeiro passo do processo. Em 2014, 2 pesquisadores publicaram um artigo com um framework de aprendizado que resume e sintetiza centenas de boas práticas de aprendizado.

A pirâmide abaixo resume as principais descobertas: nos ensinar e ensinar os outros quais são as formas mais efetivas de aprendizado. Isso acontece porque, para ensinar bem, precisamos revisar muitos conceitos e informações, priorizar o que é mais importante, tentar identificar e corrigir alguns erros e problemas no nosso conhecimento. E com o feedback, refinamos ainda mais o conteúdo.

Tudo isso reforça esse caminho pavimentado na memória e deixa cada vez mais forte.

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Este artigo, inclusive, é o meu passo 4 sobre o assunto “Como aprender a aprender”. Estou organizando o que estudei nos últimos 4 anos da forma mais lógica e simples possível. Eu passei mais de 3 meses escrevendo este artigo calmamente. E para isso eu revisitei muitos dos conteúdos que estudei, li muitos outros, lembrei de coisas que eu não lembrava mais e aprendi coisas novas.

No fim do dia, para mim vale a pena gastar tanto tempo escrevendo um artigo tão longo e profundo porque eu sou a pessoa que mais se beneficia dele. Afinal, tudo isso agora está muito mais consolidado na minha memória.

Formas de ensinar

  • Criando conteúdo: artigos, vídeos, cursos, palestras
  • Masterminds: grupos de pessoas com desafios e interesses em comum
  • Mentorias: ajudar outras pessoas com seus desafios
  • Conversas de aprendizado: A maioria dos insights acabam vindo de conversas despretensiosas entre amigos/colegas sobre diversos assuntos, dialogando e aprendendo um com o outro.

E por que é importante ensinar de forma simples?

Conseguir explicar algum assunto de forma simples ajuda tanto quem está ensinando quanto quem está aprendendo. Mas é extremamente desafiador conseguir pegar um assunto complexo e simplificá-lo ao máximo. Para isso, exige que você realmente tenha domínio completo do tema, entenda o que é realmente mais importante, consiga priorizar, consiga quebrar em blocos menores.

Se você não consegue explicar de forma simples, você não entende bem o suficiente. Albert Eistein

(há boatos que essa frase é dele mesmo… mas vai saber).

Inclusive, o feedback que mais gosto de receber dos meus textos e palestras é o de “conseguiu explicar algo complexo de forma simples”. Isso porque prova que de fato eu aprendi sobre o assunto, aprendi a sua essência, as partes mais importantes e consegui explicar de um jeito bom o suficiente.

 


 

Usando a Técnica de Feynman ensinar e aprender 

Um técnica bem relevante para isso é a técnica de Feynman. Richard Feynam foi um físico americano, ganhador de um prêmio Nobel. Além de todo o seu destaque na academia, ele se destacava também por sua capacidade de transmitir idéias complexas a outras pessoas de maneiras simples e intuitivas. A Técnica de Feynman é um método para aprender ou revisar um conceito rapidamente, explicando-o em linguagem simples e direta.

O post How to Use the Feynman Technique to Learn Faster e o vídeo abaixo explicam melhor como a técnica funciona:

Abaixo um exemplo de como o autor do artigo acima simplificou a explicação de como funciona o CSS:

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No meu caso, ao invés de desenhar dessa forma, eu prefiro escrever textos densos e com bastante informação, mas com uma estrutura e linguagem bem simples. Que seja possível que qualquer pessoa, mesmo que não seja expert, consiga entender super bem. E para isso eu gasto muito tempo pensando numa linha de raciocínio clara, refinando, simplificando e construindo exemplos.

Cruzando o Vale da Morte

Como eu descrevi como um dos desafios do aprendizado, o Vale da Morte é a região onde sua motivação diminui por não sentir tanto avanço a ponto que te faz desistir de aprender o novo assunto.

Conseguir ser resiliente aqui e cruzar essa fase é fundamental. Depois de tentar várias coisas, o que tem mais funcionado para mim nos últimos anos é:

  1. ser bem intenso no início do aprendizado para passar por este período o mais rápido possível. Eu ligo o modo obssessivo de aprendizado logo no início para que eu consiga evoluir rápido e passar pela fase ingrata o mais rápido possível.
  2. quebrar o projeto em assuntos menores. Ao fazer isso, os ciclos ficam pequenos e toda hora você sente que deu mais um passo importante. Com isso, a sensação de evolução se mantém alta e a motivação também.

Como superar a ansiedade e vontade de querer aprender tudo

Esse sempre foi o meu maior desafio. Conseguir manter foco e profundidade em poucos assuntos com paz de espírito.

Depois de quebrar a cabeça e testar várias coisas, inventei um método que funciona muito bem para mim: mata minha vontade e curiosidade de aprender novos temas (muitos deles aletórios inclusive), não gasto dinheiro desnecessariamente e não me tira o foco dos assuntos principais.

É o que eu chamo de Kanban de Aprendizado. 

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A essência aqui é quebrar o processo de aprendizado em algumas etapas, separando essencialmente por nível de profundidade e quantidade de recurso que você irá investir naquilo.

Nível 0 — Backlog

Esse nível aceita qualquer loucura minha — seja por interesse pessoal ou profissional. Qualquer que seja o tema que eu tiver interesse em algum momento, adiciono a essa lista que é revisada e priorizada constantemente. A partir daí escolho um tema que será promovido para o próximo nível.

Nível 1 — Superficial e rápido para matar curiosidade

Nesse primeiro nível, o objetivo é matar a minha curiosidade do tema e a vontade de aprender algo novo sem precisar gastar muito tempo ou recursos.

Neste caso, me dou o direito de investir de 1 a 3 horas para explorar o tema antes de me comprometer de verdade. Com esse tempo já consigo absorver bastante coisa, entender princípios elementares e decidir se vale mesmo a pena priorizar e aprofundar no assunto.

Isso me poupa de começar a ler um livro e parar no meio, de comprar e não terminar um curso e muitos outros desperdícios. O curioso é que, para a maioria dos assuntos, essa fase já é suficiente. Chega a ser interessante aprender sobre aquilo mas não o suficiente para valer eu investir mais tempo e atenção.

Principais recursos utilizados nesta etapa: Vídeos + podcasts + resumo de livros (não leio livros e não faço cursos)

Nível 2 — Primeiro aprofundamento

Uma vez que decidi que vale a pena aprofundar no assunto, ele passa para esse próximo nível. Aqui eu começo a me dedicar um pouco mais, mas ainda sem comprometer muito dinheiro.

Livros são baratos e já ajudam a dar uma profundidade bem maior. Além disso, existem cursos gratuitos sobre praticamente tudo — e sempre foram suficientes para esta fase.

Recursos utilizados nesta etapa: Livros + cursos gratuitos (evito cursos pagos)

Nível 3 — Segundo aprofundamento — levando o negócio a sério

Nesse nível é onde eu realmente começo a levar um assunto bem a sério e já estou disposto a dedicar bastante tempo e recursos. São assuntos que eu entendo que estão alinhados com meus objetivos profissionais ou pessoais e por isso já quero me tornar muito bom neles.

Nessa etapa é onde coloco em prática os 4 passos do processo de aprendizado.

Recursos utilizados nesta etapa: Prática deliberada + mentorias + cursos pagos +começar a compartilhar conhecimento

Nível 4 — Mastering: ficar realmente muito bom no assunto

Aqui realmente são as pouquíssimas coisas da vida que eu escolhi me dedicar o suficiente para tentar me tornar realmente muito bom. É onde eu acredito que eu ganho o jogo no longo prazo.

Quando algo entra nessa fase, provavelmente significa que vou me dedicar anos no assunto. Como citado no passo 4 do método, ensinar é o que reforça e refina muito o seu conhecimento. Nesse caso, o principal é focar em criar o meu “playbook” do assunto e compartilhar isso de muitas formas diferentes.

O que fazer nessa etapa: Construção de playbook + compartilhar conhecimento com profundidade

Como aprender – Recursos importantes:

Alguns recursos foram bem importantes no meu processo. Caso você queira saber por onde começar a se aprofundar, aqui está a minha lista:

  • Learning How to Learn — curso no Coursera com mais de um milhão de alunos. Ensina os fundamentos e ferramentas para um bom aprendizado.
  • How to Read a Book — livro incrível e que me abriu muito a cabeça. Cada tipo de livro tem uma forma melhor de ser lido para se absorver mais informações.
  • Method Feynam — método para aprender e ensinar que consiste em simplificar o máximo o assunto.
  • Peak: Secrets from the New Science of Expertise — melhor livro sobre prática deliberada.
  • Deep Work — sobre a importância de foco e concentração e como adotar isso na sua vida.
  • Spacing Effect — técnica para consolidar o aprendizado e vencer a curva de esquecimento de Ebbinghaus.
  • Farnam Street Blog — meu blog favorito que acompanho há anos. Um dos temas mais falados é “aprendizado”. Existe uma sessão do blog só para isso.
  • Blog Accelerated Intelligence — um blog excelente focado em aprendizado que passei a acompanhar no último ano.

Como aprender – Resumindo:

  • Aprender rápido e com qualidade é umas das habilidades mais importantes e prósperas atualmente.
  • Temos muitos desafios de aprendizado: a forma como a escola não nos ensinou a aprender; o fato de os adultos aprenderem diferente; o fato do ser humano esquecer as coisas muito rápido.
  • Cuide do seu corpo, do seu sono e das suas emoções —tudo isso influencia muito na sua capacidade de aprendizado. Seu corpo é uma máquina e ela precisa estar funcionando bem para poder aprender bem.
  • Os 4 passos: aprenda bem os fundamentos, pratique deliberadamente, tenha boas pessoas perto de você e ensine o que você aprendeu.
  • Para cruzar o Vale da Morte é necessário que você seja resiliente para resistir o período ou intenso no aprendizado para passar por ele rapidamente.
  • Se tiver ansiedade para aprender tudo, organize quanto de dedicação vai dar para qual assunto. Assim você não tenta suprimir uma vontade tão forte, mas ao mesmo tempo não aloca mais tempo que o necessário para aquele assunto.

Referências:

 


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