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Não acredite se alguém lhe disser que sabe como será o mercado de trabalho daqui 20 anos. Nem mesmo se o Harari disser. No máximo, aceite algumas visões e de preferência que sejam bem conflitantes. Então, aqui vai uma.

Existe apenas um único ponto em que mesmo inimigos ferrenhos concordam é que o aprendizado da máquina e a robótica irão remexer com tudo. Daí pra frente, cada um pensa uma coisa.

A posição do Harari neste ponto é bem ambígua. Ao mesmo tempo em que reluta em passar uma mensagem sombria, já de saída ele aponta para que nossos dois tipos de habilidades, a física e a cognitiva. Que são bem inferiores se comparadas às dos seres que criamos.

Para ele, e esse é um dos pontos cruciais do livro, a questão da IA não é sobre a máquina ser mais inteligente que o homem (isso já é uma realidade). O que criamos e estamos desenvolvendo são inteligências que nos superarão em habilidades como compreensão de emoções humanas, desejos e escolhas. A IA saberá mais de nós que nós mesmos.

Se isso é verdade as implicações são tão complexas que nem sabemos por onde começar a discutir. A pergunta é como o Harari chegou a essa ideia? Crendo que já estamos hackeando humanos.

Hackear aqui tem o sentido de olhar algo por dentro. Amparado em seu perfil intelectual e em pesquisas da neurociência e economia, o Harari literalmente afirma que nós não temos aquilo que chamamos livre-arbítrio. Todas nossas escolhas se baseariam em probabilidades calculadas por nosso conjunto de neurônios e o que chamamos de intuição seria uma elaborada capacidade de reconhecer padrões que a evolução nos deu.

Em outras palavras, somos um algoritmo bioquímico.

Leia também:

1- 21 Lições para o Século 21 – Parte 1 | Desilusão – Sentindo o Pulso da Humanidade

2- Clareza é poder. 21 Lições para o Século 21 e porque precisamos delas.

3- Profissões do Futuro: Na Era das Máquinas o emprego é de quem?

Isso dói. Se (eu disse se) tomado como verdade, a consequência imediata seria se perguntar:

  1. Já não estamos no nosso limite de modelo evolutivo; e
  2. se podemos competir com a IA.

Vamos por partes que aqui a coisa fica muuuuito complexa.

A primeira questão demanda uma afirmação do conceito de inteligência; Harari a define como a capacidade de resolver problemas. Ponto. Se assim for, a IA ganha disparado por duas coisas que, para os seres humanos, são um lento e doloroso aprendizado: a cooperação de vários indivíduos para se chegar à solução e a capacidade de atualização. Tendo ambas em escala natural, a IA nos supera não somente em habilidades quantitativas, mas qualitativas.

A segunda questão envolve, além da inteligência, o debate sobre dois pontos importantíssimos da obra dele; a reinvenção de si mesmo e quantas vezes será possível fazê-lo e a questão da irrelevância que nos aguarda. De novo, a mensagem é um tanto agridoce.

Ele crê sim, em um possível mercado de trabalho onde a cooperação homem-máquina seja boa, necessária e benéfica. Ao menos durante um período podemos formar aquilo que se diz um ser-centauro, com as habilidades humanas específicas da consciência, tais como: amor, alegria, prazer, sendo combinadas com a inteligência da máquina. Diz ele que haverá muita demanda para isso e que nesse período o ganho potencial para o ser humano pode ser mais incrível ainda.

O grande problema é que esse salto não estará ao alcance de 7 bilhões de pessoas e também tende a ser superável. Um caixa de supermercado dificilmente terá acesso às ferramentas, à energia mental e tempo disponível para se re-inventar antes de ser jogado irremediavelmente à irrelevância completa. E pior, um caixa de supermercado vietnamita menos ainda quem um europeu. Mesmo que num esforço sobre-humano de pessoas e governos isso seja alcançado, nada impede que outro golpe de inovação faça com que rapidamente a outra ocupação-centauro não siga o mesmo destino, obrigando esse caixa a começar de novo. Uma analogia boa para se entender é: o carro substituiu a carroça; os carroceiros viraram condutores; e o problema é que os cavalos foram expulsos do mercado de trabalho…

Apesar de dura essa imagem mostra que não estamos falando de substituição de tarefas que exigem a mesma cognição. O cavalo, mesmo se quisesse, não conseguiria aprender a dirigir. Quantos caixas de supermercado aos 35 anos conseguiriam aprender computação quântica?

Alguns autores, como Domenico de Masi, acreditam que a máquina nos liberará para o ócio e a produção criativa. Lembrando sutilmente o fato de que poucos seres humanos aprenderam a ser ociosos e criativos simultaneamente, o Harari afirma que a criatividade como a conhecemos também não é exclusividade cognitiva nossa.

O AlphaGo quando deixado só para criar as jogadas de xadrez que queria, fez uma série de aberturas de partidas tão espetacularmente novas que cada vez que uma nova partida entre humanos começa, se há algo muito diferente, suspeitam de fraude com o uso de IA. Existem filmes cujos personagens nos comovem absurdamente, mas eles não são reais. E músicas são criadas por padrões propostas pela IA de acordo com as categorias de emoções que desejam despertar nas pessoas. Isso é mais do que muita mente humana criativa por aí pode oferecer…

Resumindo, podemos ser superados em ambas – inteligência e habilidades de consciência, ainda que a IA não possua nenhuma. E talvez nunca precise. Pode ser que a consciência, a que tanta importância damos, nada mais seja que um rescaldo evolutivo que nos leva a um deadlock evolucionário.

Arthur C. Clarke pensava assim.

As propostas do Harari para a solução desse impasse requerem mais uma vez um elaborado pensar.

A primeira alternativa concreta para esse problema concreto é achar que o Estado (uma ficção que de alguma maneira nos une ainda) precisa agir de alguma maneira. Porém, não vamos desconsiderar o fato que raras vezes a política age a prazo; e pior, os políticos também não tem a menor ideia de qual é o problema (cuidar de emendas e da base já consome o escasso conhecimento que possuem). Não adianta esperarmos deles algo que simplesmente não sabem que têm que fazer, pelo menos não no prazo em que precisamos que seja feito.

Para salvaguardar nossa sobrevivência física e lastro mental, as hipóteses grupais deveriam ser testadas com a seguinte premissa:

O lógico mínimo seria tentar proteger as pessoas e não os empregos.

Uma ideia que chama atenção, cada vez mais, é a RBU – Renda Básica Universal. O modelo de financiamento e a taxação sobre grandes empresas de tecnologia, que muitos preferem ver não como iniciativa privada, mas como patrimônio humano, até que põe a maioria de acordo (até mesmo os donos de algumas delas, se perguntem porque…).

O problema começa com a definição do que é o básico e do que é o universal. Um carpinteiro do Texas tem uma definição completamente diferente de um pedreiro angolano, que por sua vez difere totalmente da costureira boliviana. A renda básica serve para cobrir as 2,000 calorias e mais o que? Ler e escrever ou aprender computação? Água encanada, esgoto e internet? Se eu descobrir que meu filho tem fibrose futura, a renda básica contemplaria isso, já que o filho da elite liberal vai nascer mais alto e forte pela edição genética? Isso não é perpetuação da desigualdade?

Outro problema: o que é universal? Sapiens podem ser extremamente solidários com seus vizinhos, mas uma mãe solteira de Mumbai com 12 filhos me causa empatia? Eu, engenheiro da computação do Vale, concordarei em subsidiar a ela a educação de seus filhos ou vou exigir que a RBU seja aplicada ao meu país ou cidade primeiro? O governo francês vai concordar em enviar a taxação do Google na Europa ao Magrebe?

Sapiens não foram evoluídos de modo a satisfazer-se com algo, isso é fato.

Nossa felicidade depende muito mais de condições subjetivas de expectativas de acesso do que propriamente condições materiais. Se considerarmos a RBU para objetivamente melhorar condições de vida, OK, diz ele que pode dar certo. Mas como parâmetro de felicidade ou para acalmar uma situação populacional potencialmente explosiva, talvez não seja suficiente.

Harari, com bastante humildade, sugere que se estamos liberando forças cognitivas que mal conhecemos e cujas consequências não sabemos prever, de jeito nenhum, algumas experiências onde as pessoas encontram um sentido de realização maior, mesmo em relativa pobreza, apontam alguma saída.

Ocupações dotadas de algum sentido, com a busca por um significado dentro de alguma comunidade, podem fazer a diferença nesse porvir.

Ele cita exemplos de sua realidade, onde subsídios do governo dotam aos judeus ortodoxos algumas condições de vivência que fazem a comunidade produtiva (a seu modo) e feliz (idem). As pessoas mantém a mente e o coração ocupados. Por outro lado, parte da sociedade israelense reclama do peso e da insustentabilidade desse modelo a longo prazo. E chegamos a um impasse curioso. O que esses judeus são hoje: passado ou futuro?

De qualquer maneira, no cenário de perda de controle de nossa vida diária, a perspectiva da irrelevância pode ser muito assustadora e até mesmo paralisante. No capítulo seguinte, ele investiga a questão da liberdade. Ela ainda resiste?

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Assista uma parte da apresentação de Yuval Noah Harari, no Fórum Econônico Mundial, Davos, Suíça, 2018:

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Anna Flavia

Filósofa, pesquisadora de criatividade e de polimatia. Co-founder Associação Polímata. Professora e facilitadors de insights, encantando serpentes. Co-fundadora do Tomorrow X. Future Hunter e professora da Oli - Aerolito.

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