Por Mateus Longato com colaboração de Moisés Moss.
Se olharmos para a disposição de zonas desérticas ao redor do mundo, percebemos que não existe deserto ao leste da Cordilheira dos Andes, mesmo com as condições propícias para que isso acontecesse. Para Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a grande responsável por manter o clima ameno no coração do continente sul-americano é a floresta amazônica. No caso particular do Sudeste brasileiro, a Amazônia teria sido a responsável por manter as condições climáticas naturais da região, mesmo com a destruição completa da Mata Atlântica.
No entanto, o desmatamento progressivo da floresta e a degradação decorrente dessas atividades exploratórias na região estão destruindo essa capacidade de regulação climática da Amazônia, o que pode nos levar a mudanças abruptas e profundas no clima do continente – como, por exemplo, a prolongada estiagem que São Paulo vive em 2014.
Em 40 anos, o Brasil desmatou 762.979 km2, território equivalente a três Estados de São Paulo e a duas Alemanhas. “Para se ter uma ideia da destruição, é como se tivéssemos um trator a jato, trabalhando sem parar, a 726 km/h durante todos esses anos, ou mais de 900 tratores normais, lado a lado, operando dia e noite, fazendo apenas corte raso”, aponta Nobre. Os números ficam ainda piores quando agregamos a eles as regiões de degradação florestal, que ainda são contabilizadas como floresta, mas que não possuem nenhum tipo de função ecológica: em quatro décadas, o Brasil perdeu efetivamente 2.062.914 km2 de floresta amazônica.
“A questão da vida no planeta é algo difícil das pessoas entenderem, da mesma forma que a gente habita um corpo, a gente não tem consciência do que tem dentro do nosso corpo. Agora imagina isso em nível planetário? É algo que extrapola totalmente a capacidade de imaginação.” Antonio Donato Nobre
Desde o início do que chamamos de planeta Terra existe o processo colaborativo que está diretamente ligado à evolução. Porém, o ser humano está desestabilizando um sistema que a natureza levou bilhões de ano para evoluir. E isso por conta do ego, que é uma consciência apartada do sistema natural.
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Algumas culturas romperam totalmente com a harmonia natural, com a natureza, e criaram o que hoje é chamado de sociedade civilizada. E isso não quer dizer que estamos negando o que foi conquistado até hoje, mas o fato de estarmos abandonando o próprio corpo, o lugar que se vive, a mãe Terra.
Com a evolução da tecnologia as pessoas estão criando cada vez mais espaços únicos, saindo do sistema, da complexidade, e se isolando. E indo rumo ao Tech Fix, onde se tem como base que a tecnologia pode consertar tudo. E não é.Hoje se vive um individualismo que faz com que a colaboração seja deixada de lado e até vista como algo que não é muito bem aceito, dependendo do meio em que se fala e a defende. Entendemos que a competição está enraizada na sociedade como ideologia, nos dias de hoje, não mais como prática. E se busca a conquista do espaço do outro, ou seja, a intenção é a destruição do outro. E essa é a base do egoísmo, destruir o outro e vencer.
Porém, nosso planeta não está mais conseguindo viver. Ele não consegue mais, sozinho, continuar colaborando para a evolução natural da Terra. Com as diversas interferências a natureza, que possui uma seleção natural e atua dentro do princípio do amor e na sua maior naturalidade, sendo severa quando tem que ser e favorecendo a biodiversidade, o conforto e a existência.
“Nossa sociedade perdeu a capacidade de valorizar aquilo que não conhece, mas ou nos dispomos a entender isso ou seremos devorados”. Antonio Donato Nobre
Com o individualismo saímos disso. Querendo regras e restrições. Dando autorização para destruir. E é um incentivo para perseguir, desmerecer e até destruir todos que possuem uma ideia diferente. Na natureza isso é diferente, o leão mata uma gazela para saciar a fome, mas ele mata aquilo que ele vai consumir e a natureza segue seu fluxo. Na sociedade de hoje a evolução está voltada para tomar o que é do outro, destruir o concorrente, o que pensa diferente, gerando acúmulo e detenção de um mercado específico.
Contudo, na natureza tudo é ‘primo’, tudo faz parte e colabora para o crescimento e para a existência do outro, onde tudo floresce e cresce independentemente de ser positivo ou negativo para o outro se vido. Na natureza existe a colaboração no mais alto nível, onde uma árvore, por exemplo, não entra em competição com outra, pelo contrário, elas se conectam.
E fica claro que a colaboração é muito mais importante que a competição. Obviamente que a competição é importante, mas de maneira secundária e subordinada. E para que algo diferente possa surgir e acontecer hoje em dia, muitas vezes é preciso que inicie escondido, para não ser aniquilada antes de conseguir se solidificar.
O caminho é fazer os olhos das pessoas brilharem, divulgando as descobertas científicas por meio da linguagem acessível, capaz de despertar a criança interior dos adultos. Facilitando a atração de mais adeptos à causa tão urgente de proteger o que ainda resta, deixando o materialismo de lado e focando em manter e preservar o grande corpo que mantém a existência dos seres humanos, que é a Terra.
“Precisamos olhar para a floresta. Estamos ignorando uma tecnologia natural que ainda não conhecemos em grande parte, que a natureza levou dezenas de milhões de anos para criar”. Antonio Donato Nobre
Para entender um pouco melhor separamos um vídeo realmente muito interessante. A conversa não gira apenas em torno de dados ou pesquisas climáticas, mas sobre modelo mental e o paradigma científico que criou nossa insustentável realidade. Do funcionamento do cérebro à má interpretação do neoDarwinismo, dos limites do pensamento analítico à miopia humana em reconhecer a inteligência natural, um longo e interessante pensamento sobre como a mudança climática é fruto de nossa dificuldade em mudar. Ou melhor, em nos reconhecermos como espécie.
Assista o vídeo:
Fonte: Estúdio Fluxo | Observatório do Clima | Believe Earth
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